A tríade que sustenta o conceito de sustentabilidade empresarial se baseia no aspecto econômico, aliado ao social e ao ambiental. Para as organizações, o desafio se concentra na necessidade de conjugar esforços de preservação ambiental e desenvolvimento social, sem perder de vista o objetivo maior de todo empreendimento, que é registrar lucros.

Essa é a noção de que toda empresa tem seu papel na sociedade e que precisa se relacionar bem com todos os agentes envolvidos — funcionários, fornecedores, clientes, governo e comunidade.

O tema vem se consolidando como uma diretriz de governança corporativa e tem promovido ações que melhoram o processo produtivo, promovem o uso racional de recursos naturais e devolvem para a sociedade algum tipo de benefício.

Aqui, vamos falar sobre como as empresas podem manter-se sustentáveis, com um olho voltado para o próprio negócio e o outro para tudo o que mais a cerca. Esse tema precisa estar na agenda estratégica de gestores e de lá não deve mais sair!

A essência da sustentabilidade empresarial

A sustentabilidade empresarial é a união de práticas de uma empresa com foco em desenvolvimento sustentável de toda uma sociedade.

O tema vai além da questão da proteção ao meio ambiente. Considera, também, caminhos para uma atividade econômica baseada em um planejamento participativo e no estabelecimento de uma organização econômica preocupada com igualdade e justiça social.

O compromisso com essas questões cria uma integração entre as dimensões econômica, ambiental e social, e isso se materializa por meio de estratégias e programas desenvolvidos por empresas e parceiros. Aliás, parceria é o centro da concretização da sustentabilidade empresarial, exatamente porque o sentido de complementaridade é o que suporta o conceito.

Se um não vive sem o outro, todos os lados precisam se ajudar mutuamente, estar atentos às necessidades e às formas de ajudar a suprir suas deficiências e a potencializar suas forças.

Em tempos de transformação da realidade, forçada pelo impacto da era digital, novos paradigmas estão se formando, uma nova economia nasceu, um novo perfil de consumidor se formou e novas demandas estão se apresentando.

Essa mudança de cenário tem ensejado um novo posicionamento das empresas, já que o nível de exigência aumentou, clientes cobram agilidade e atendimento adequado aos seus anseios. No contexto digital, tudo se modifica rapidamente, informações são produzidas a todo momento, uma nova visão de mundo vem se formando — e se alterando já na sequência.

E as empresas diante disso? Bem, elas precisam se preparar para responder prontamente a esse contexto dinâmico e buscar não só a sustentabilidade do seu negócio, como também de todo o ecossistema no qual ela está inserida.

Os desafios da sustentabilidade empresarial

O meio empresarial já compreendeu que não existe a possibilidade de atuar de forma isolada da sociedade. E é por isso que os modelos de negócio já nascem considerando essa realidade ou, pelo menos, vêm sendo readequados para comportar esse aspecto.

Isso significa que não basta criar um produto, desenhar um fluxo de processos, contratar pessoal e formalizar a documentação e atos burocráticos. É preciso construir padrões de atuação que considerem o impacto da atividade empresarial e proponha meios para amenizar danos. Também é vital agir proativamente na busca de soluções para a sociedade e o meio ambiente.

O desafio da sustentabilidade empresarial está exatamente neste ponto: as empresas precisam achar um ponto de equilíbrio entre a corrida pela rentabilidade e a contribuição para um mundo mais justo e com disponibilidade e perpetuação dos recursos naturais.

Outro fator que entra nessa equação é a ética nas relações, o que vem sendo trabalhado nas premissas de governança corporativa. Em documentos estratégicos, e também na prática, empresas têm buscado escolher fornecedores idôneos, selecionado matéria-prima isenta de testes em animais, buscado repor recursos consumidos e também reciclado materiais.

As organizações sustentáveis carregam características comuns, o que torna possível identificar a presença da preocupação com o assunto em sua estratégia corporativa. Em sua cultura organizacional, observa-se a presença de:

  • Transparência nas ações, com publicação de balanços econômicos e sociais e divulgação de missão, valores e visão de futuro.
  • Estratégia de negócio integrada com políticas de sustentabilidade, com respeito aos direitos humanos, sociais e ambientais.
  • Inovação e adoção de soluções disruptivas, para solucionar questões que podem trazer consequências ao meio ambiente e às comunidades.
  • Gestão ambiental, com destinação adequada de resíduos sólidos resultantes da esteira de produção.
  • Atendimento a normas trabalhistas e incentivo ao desenvolvimento humano e profissional dos colaboradores.
  • Incentivo ao voluntariado, com programas que envolvem funcionários e suas famílias.
  • Desenvolvimento de programas sociais, com foco em educação, promoção da saúde, geração de trabalho e renda e ampliação do acesso à informação.

Os benefícios na adoção das práticas sustentáveis

A responsabilidade social corporativa (RSC), diretamente relacionada à sustentabilidade empresarial, traz benefícios à sociedade e ao planeta, falando de forma bastante ampla. Do lado das empresas, as vantagens também existem e acabam sendo boas justificativas para a perenidade das ações em prol do tema.

Conheça os ganhos que ações socioambientalmente responsáveis promovem para as organizações:

Reconhecimento da marca

Imagem é tudo, diriam as bases teóricas e pensadores do Marketing. E só pode ser positiva a relação entre uma marca e ações de respeito às diferenças, apoio à inovação, recuperação ambiental e promoção de melhores condições de vida para as pessoas.

Atrelar a imagem da empresa a uma postura responsável, ética e antenada com valores coletivos é favorável e acaba se tornando fator de competitividade. Em um mercado onde produtos e serviços concorrem entre si, muitas vezes com características similares, o diferencial pode estar exatamente no posicionamento sustentável.

Reputação comercial

Quando uma empresa opera dentro de padrões de qualidade, com respeito aos stakeholders e colaborando para o desenvolvimento econômico, social e ambiental, ela passa a ser melhor vista no mercado.

Com isso, aumentam as chances de atrair bons parceiros para sua cadeia de suprimentos. Assim o caminho se abre para que a gestão de fornecimento possa contar com empresas que compartilham de valores parecidos.

Respeito dos investidores

Empresas que comprovam sua atuação ética e seu potencial de contribuinte com questões relevantes para a sociedade ganham pontos perante investidores.

Quando demonstram que já praticam sustentabilidade, as empresas agregam valor às suas ações no mercado e passam a ser vistas com bons olhos pelo mercado.

Fidelização de clientes

Um discurso bonito é só um discurso bonito. Mas quando a prática materializa tudo o que é dito e divulgado, as pessoas tendem a se encantar.

O apelo a questões de interesse público, quando inserido no contexto empresarial, agrega valor à marca, ao produto, ao negócio como um todo. O cliente tende a se familiarizar com as bandeiras carregadas pelas empresas e isso influencia sua decisão de compra.

Redução de custos operacionais

O reuso de materiais e a adoção de reciclagem são algumas das ações que podem trazer redução de custos para o processo produtivo.

Além da aquisição de materiais mais baratos, a racionalização do uso de energia, água e recursos de telecomunicações ajuda a reduzir não só o peso da produção no orçamento corporativo, como também o impacto nas reservas naturais.

Retenção de talentos

Profissionais são pessoas, antes de tudo. Por isso, a motivação vem com a identificação dos valores do indivíduo com os valores empresariais.

Quando esse encontro acontece, as empresas tendem a atrair e a reter talentos. Um dos resultados é a conquista de colaboradores que vestem a camisa da empresa e por isso se tornam mais produtivos, além da redução da rotatividade do pessoal e da mitigação do risco de perda de conhecimento.

Reputação diante de credores

Algumas instituições financeiras e de fomento ao desenvolvimento empresarial exigem atestado de não utilização de trabalho escravo ou infantil para conceder créditos.

As empresas que atuam de forma ética e responsável cumprem esse tipo de requisito e podem contar, quando necessário, com o suporte financeiro para manter sua produção ou expandir seus negócios.

Mídia espontânea

Quando uma empresa se torna referência em atuação responsável, ela costuma ser lembrada pelo público e também pela mídia.

É comum que reportagens sobre o tema pautem essas empresas para exemplificar o assunto e isso acaba sendo uma propaganda gratuita positiva para a marca.

Benefícios fiscais

O investimento em algumas ações de cunho social pode ser revertido em descontos em impostos e na redução da carga tributária.

Essa é uma forma de incentivo governamental para que a iniciativa privada seja atuante e direcione recursos na implementação de projetos de natureza social e ambiental.

A trajetória responsável das empresas

Uma plataforma digital norte-americana, que concentra informações sobre a responsabilidade empresarial de multinacionais, apresenta dados interessantes. Ali são analisadas as 200 maiores empresas do mundo (segundo a Fortune Global 500) e suas metas de sustentabilidade.

Os pesquisadores categorizaram os objetivos de cada empresa, desconsiderando aqueles que figuram apenas como discurso, do tipo “nossa meta é reduzir o uso de energia”. Nas estatísticas só figuram ações reais e mensuráveis.

Ao longo de dez anos, o histórico dessas empresas foi monitorado. Nesse tempo, foi possível concluir como é a linha de avanço da dedicação empresarial a questões de interesse coletivo. Veja:

  • Entre as 200 empresas estudadas, 94% estabeleceram metas coletivas ao longo de dez anos, contra os 77% iniciais. Essa quase totalidade de participação representa uma vitória para o tema da sustentabilidade empresarial.
  • O banco de dados com objetivos empresariais sustentáveis cresceu nos últimos cinco anos, de 1.300 para 2.000 objetivos, que se relacionam mais a questões públicas do que ao negócio em si.
  • Foi registrado o aumento de alvos sociais, como filantropia, saúde e bem-estar social. No mesmo ritmo, aumentaram as ações para engajamento dos funcionários e incentivo à participação voluntária.
  • Questões ligadas a recursos naturais também mudaram de tom: antes a tônica era a racionalização do uso, agora a utilização de recursos renováveis ganhou importância.

Essa coletânea analítica da atuação social de empresas, em todo o mundo, mostra o quão generosas são as organizações quando o assunto é reverter benefícios para garantir um futuro sustentável para as próximas gerações.

O impacto das ações sustentáveis e a importância de mensurá-los

Criar valor a partir de ações sustentáveis é possível, mas como isso pode ser comprovado? Como calcular o retorno sobre o investimento em iniciativas em prol da sociedade e do meio ambiente? Por que é importante dimensionar o que é empregado e o que volta dessas estratégias?

O acompanhamento de ações com foco em sustentabilidade empresarial é importante para se ter uma medida de onde a empresa está e onde ela ainda pode chegar.

Essa mensuração é importante porque demonstra o retorno do investimento em iniciativas socioambientalmente responsáveis. Do ponto de vista da tomada de decisão, essas respostas são relevantes para direcionar novos compromissos a serem assumidos pelas empresas perante a sociedade e o planeta.

O que difere esse tipo de medição das usuais nas empresas é que nem sempre o resultado será monetário, nem quantitativo. Lidar com a melhoria da qualidade de vida das pessoas é diferente de gerenciar uma meta de aumento de vendas de produtos.

Mas para se alcançar análises estatísticas e qualitativas dos resultados de iniciativas com foco em ações de interesse coletivo, existem algumas metodologias específicas.

O emprego de ferramentas de análise de dados contribui com essa tarefa, já que é necessário conjugar uma série de variáveis para se chegar a conclusões e informações gerenciais precisas. Conheça algumas delas agora:

As ferramentas de mensuração da sustentabilidade

Diante da relevância da atuação socioambientalmente responsável das empresas, alguns indicadores foram desenvolvidos para medir os resultados alcançados. Aprenda um pouco sobre os que já estão bem consolidados no mercado!

  • FVTool (Financial Valuation Tool for Sustainability Investments): desenvolvida pelo IFC (International Finance Corporation), a ferramenta auxilia as empresas a identificar as melhores opções de investimento na área da sustentabilidade. Isso facilita o desenho de estratégias certeiras, com maior potencial de captura de valor para a empresa.
  • SEAT (sigla de Ferramenta Para Avaliação Socioeconômica): desenvolvida pela Anglo American, é uma métrica de mensuração de impacto social do mundo, com uma avaliação socioeconômica dos impactos da gestão das operações de um negócio.
  • InVEST (Integrated Valuation of Ecosystem Services and Tradeoffs): desenvolvida pela Natural Capital Project, mapeia e valoriza bens e serviços naturais, com o objetivo de avaliar compromissos e ações quantificáveis, identificando onde o investimento em capital natural pode melhorar a conservação ambiental. A ferramenta possui modelos de serviços ecossistêmicos terrestres, aquáticos e costeiros.
  • Trucost: integrante da S&P Dow Jones Indices, a ferramenta fornece dados e insights para que organizações investidoras possam apresentar propostas de transição para uma atuação focada em baixa emissão de carbono e economia de recursos naturais. Ela ajuda a avaliar riscos ligados a mudanças climáticas e restrições de disponibilidade de fontes naturais.

As 10 práticas de sustentabilidade empresarial de destaque

A melhor forma de visualizar como a sustentabilidade empresarial se concretiza é conhecendo ações reais, desenvolvidas por empresas. Temos 10 bons exemplos, confira:

1. Siemens

A empresa possui um compromisso de reduzir suas emissões de carbono em 20%, com investimento de US$ 100 milhões.

Com a modernização de fábricas, aquisição de maquinários eficientes energicamente e com o uso de energia renovável, ela assume realizar esse plano de redução de impacto no clima até 2030.

2. Levi´s

A pioneira da fabricação do jeans anunciou a intenção de usar algodão 100% sustentável em sua cadeia produtiva, sem descarga de produtos químicos perigosos.

A meta deve ser alcançada até 2020 e até concorrentes podem ter acesso ao plano elaborado para viabilizar esse objetivo. Isso mostra o quanto a Levi´s está imbuída em disseminar conceitos sustentáveis no mercado.

3. Microsoft

O projeto YouthSpark, em parceria com governos e instituições filantrópicas, oferece cursos gratuitos de programação de computadores para jovens de todo o mundo.

A intenção é criar oportunidades educacionais, emprego e chances de empreendedorismo para mais de 300 milhões de pessoas.

4. TOMS Shoes

Desde 2006 a empresa fornece pares de sapato para crianças que precisam, a cada venda realizada. A iniciativa faz parte do projeto chamado “Sapatos do bem” e, ao todo, já foram destinados mais de 60 milhões de calçados a cerca de 70 países.

A ação também foi expandida para fornecer acesso à água, óculos e cirurgias oftalmológicas, além de treinamento para a realização de partos seguros nas comunidades carentes.

5. Cisco Systems

A multinacional de tecnologia adotou diversas medidas para reduzir a pegada ecológica ligada à emissão de carbono.

O projeto instalou sistemas fotovoltaicos nas instalações de produção e também foram desenvolvidas plataformas para permitir o trabalho remoto dos funcionários, economizando o consumo de energia e água em escritórios.

6. Ben and Jerry’s Ice Cream

A famosa produtora de sorvetes defende a ética nas práticas trabalhistas e na relação com os fornecedores, incluindo pagamento igual para trabalho igual e também iniciativas de compensação salarial.

O mesmo ela exige de seus fornecedores e só utiliza como ingredientes aqueles produtos que tenham sido certificados com padrões de comércio justo.

7. Xerox

Programa de Envolvimento Comunitário da empresa envolve inúmeras iniciativas de responsabilidade social corporativa, como a liberação de fundos para funcionários atuarem em projetos comunitários.

Os colaboradores podem até tirar licença remunerada para se dedicar integralmente a projetos sociais aprovados pela empresa.

8. Twitter

A mídia social lançou uma campanha para apoiar a organização sem fins lucrativos Room to Read, que promove a alfabetização de crianças.

O mote do projeto é democratizar o acesso à informação, como engrenagem para mudanças positivas na sociedade.

9. Starbucks

A empresa possui uma política de compra de suprimentos que atende a determinados quesitos éticos, dentre eles o cultivo sustentável do café e a demonstração de testes de qualidade.

Ela também elege fornecedores que apoiam agricultores e garantem condições seguras de trabalho.

10. Natura

A empresa de cosméticos se projetou internacionalmente por meio dos projetos de uso sustentável de matéria-prima extraída da Amazônia.

O compromisso assumido resulta em projetos sociais junto da comunidade, buscando contribuir de forma inovadora e exemplar para o aperfeiçoamento da sociedade.

A sustentabilidade empresarial como estratégia que veio para ficar

O espaço conquistado pelo tema sustentabilidade empresarial é cativo e certamente crescente. Diversos fatores colaboram para isso: a disseminação de informações promovida pela era digital, legislações criadas para proteger direitos humanos, evolução de regras trabalhistas aceitáveis, a convivência crescente entre humanos e máquinas, o advento do conceito da experiência do cliente como prioridade, a valorização da diversidade.

Tudo isso resultou em uma nova sociedade que cobra das empresas muito mais do que a entrega de um produto ou serviço. Responsabilidade é uma exigência dos consumidores atuais e as empresas que deslizam em suas declarações, ações e até no marketing são penalizadas com boicotes nas compras, manifestações negativas em redes sociais ou acionamento judicial.

O que se espera do meio empresarial é uma atuação consciente, que alie o respeito ao ambiente e à sociedade em que está inserida. É por isso que a criação de políticas e projetos para engajar funcionários e reduzir os impactos da atividade produtiva são bem-vindos.

Nessa perspectiva, atrelar as estratégias de sustentabilidade às de negócio é o caminho que as organizações precisam seguir para que consigam legitimar o discurso da preocupação socioambiental.

Por isso, o tema precisa ter peso nas tomadas de decisão estratégica e precisa se consolidar como um compromisso corporativo, como uma direção para as ações da empresa agora, com olhos no amanhã.

A cidadania corporativa, quando se materializa, transforma a realidade do mercado, a vida das pessoas e dá fôlego para que o meio ambiente ofereça recursos de forma perene para as gerações atuais e as futuras.

Investir em sustentabilidade empresarial é papel de quem se vale do meio externo para sobreviver e manter a continuidade dos seus negócios. É uma via de mão múltipla, onde todos ganham. E, sim, um caminho sem volta.

Ajude a disseminar esse conceito tão relevante e a estimular a atuação consciente das empresas. Compartilhe este conteúdo!

Eduardo Wolkan

Cofundador do TransformaçãoDigital.com. Eduardo Wolkan é bacharel em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com ênfase em marketing e comportamento do consumidor. Entusiasta do meio digital e fascinado pela internet, fez do hobby sua profissão e hoje atua com projetos de transformação digital para empresas tradicionais.

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