Por décadas, os carros estiveram no centro do planejamento das grandes cidades. Com isso, mobilidade urbana era sinônimo de infraestrutura viária para veículos automotores. O resultado? Engarrafamentos estratosféricos, saturação das vias e poluição severa. Mas, graças ao avanço da tecnologia, a Transformação Digital na mobilidade urbana está ampliando as soluções e permitindo novo olhar ao planejamento caótico das áreas urbanas.
Por isso, vamos explorar a importância da mobilidade urbana e como a Transformação Digital está melhorando a relação das pessoas com os transportes, aumentando a qualidade de vida e gerando renda.
Por que repensar a mobilidade urbana?
Com tantos carros nas ruas e uma infraestrutura carente, as políticas de mobilidade urbana precisam tornar as cidades mais inteligentes e sustentáveis, já que a economia também enfrenta o ônus da dificuldade de deslocamento.
Isso inclui não apenas o tempo gasto no trânsito, como também as consequências para a população, que vivencia desde problemas de saúde e estresse pelo tempo desperdiçado até dificuldade de acesso a direitos essenciais.
Em 2012, foi sancionada a Lei da Mobilidade Urbana (nº 12.587), pelo governo federal, que “determina aos municípios a tarefa de planejar e executar a política de mobilidade urbana” como “instrumento fundamental necessário para o crescimento sustentável das cidades brasileiras”. O ponto nevrálgico dessa lei é a priorização de “modos não motorizados e coletivos de transporte em detrimento do transporte individual motorizado”.
Seguindo a tendência mundial, é cada vez maior o número de projetos de corredores de ônibus, linhas de metrô e alternativas sustentáveis, como ciclovias e espaços exclusivos para pedestres, a exemplo dos famosos calçadões e regiões com restrição de veículos.
Além disso, estudos comprovam que quanto maior a velocidade das operações do transporte público, menor é o custo da operação do sistema. Para se ter uma ideia, um ônibus de alto padrão no sistema BRT, por exemplo, transporta a quantidade de passageiros equivalente à ocupação de 180 carros. Uma composição do metrô, por sua vez, pode levar cerca de 2 mil passageiros numa única viagem. Tudo isso ocupando menos espaço nas vias.
Quais tecnologias estão transformando os meios de transporte?
Para garantir a eficiência de uma malha tão complexa, diminuir custos e gerar renda, o investimento em Internet das Coisas (IoT), Big Data, machine learning, cloud computing e a tecnologia móvel estão impulsionando a transformação digital na mobilidade urbana no mundo todo.
Por meio dessas tecnologias é possível conectar processos, obter dados e disparar informações sobre os transportes em tempo real, melhorando a experiência do usuário, principalmente com relação aos serviços públicos.
Além disso, graças à abertura desses dados pela administração pública, sobretudo startups, soluções digitais criativas estão surgindo para diminuir problemas de mobilidade sem, no entanto, representar ônus ao poder público. Com isso, os exemplos de benefícios para ambos os lados são inúmeros. Podemos citar alguns:
- transporte público inteiramente conectado;
- automação de equipamentos e veículos;
- integração com aplicativos de mapas;
- estacionamentos inteligentes;
- redução do consumo de energia;
- segurança do usuário;
- compartilhamento de veículos;
- maior controle e fluidez no trânsito;
- sustentabilidade, educação e economia.
Quais empresas estão fazendo a diferença?
Na esteira da inovação, as startups têm contribuído de maneira crucial para a chamada economia compartilhada. Nesse conceito, cria-se uma rede de relacionamento entre usuários, a tecnologia e os meios de transporte para um deslocamento mais inteligente, organizado e sustentável.
Com isso, várias empresas de aplicativos para smartphones estão decolando no mercado e contribuindo para a transformação digital na mobilidade urbana. Veja alguns exemplos:
Compartilhamento de carros
A empresa Uber despontou no Brasil e modificou significativamente o serviço de compartilhamento de veículos. Com preços mais acessíveis e um serviço, em geral, melhor que os táxis comuns, enfrentou resistência e batalhas judiciais para continuar suas operações.
A chegada da Uber no país também incentivou a propagação de outros tipos de aplicativos, como o Blablacar (maior aplicativo de caronas do mundo) e Zazcar (aluguel de veículos de forma prática e rápida).
Informações do trânsito e trajetos
Waze e Google Maps são os aplicativos mais importantes para quem precisa dirigir nas grandes cidades ou realizar viagens. Além de mostrarem trajetos em tempo real, tem a capacidade de identificar pontos de lentidão e buscar alternativas para se locomover.
O Google Maps ainda tem a vantagem de apresentar rotas facilitadas para quem vai realizar caminhos curtos a pé. Ambos estão modificando a maneira como as pessoas escolhem seus trajetos e até os melhores horários para enfrentar o trânsito, evitando assim a hora do rush ou vias com engarrafamentos constantes.
Rotas de ônibus
Para quem estava cansado de ficar horas esperando um ônibus, surgiram aplicativos como o Moovit, desenvolvido pela israelense Tranzmate. Ao inserir um ponto de partida e outro de chegada, o aplicativo traça rotas com diferentes tipos de transporte (ônibus, metrô, trem ou percurso a pé) e ainda diz detalhes de horários. É possível pedir para o aplicativo informar se está perto de descer.
O Moovit está presente em 79 países e nas principais cidades brasileiras em mais de 100 cidades brasileiras.
Compartilhamento de bicicletas
O incentivo público ao uso de bicicletas impulsionou o trabalho de empresas como a Mobilicidade, presente em cidades de todo o território brasileiro. Entre suas principais soluções, estão os aplicativos de compartilhamento de bikes. Por meio deles, os usuários podem encontrar bicicletas liberadas para uso e onde deixá-las no fim do trajeto.
E por falar em bicicletas, elas também estão sendo utilizadas por ciclistas freelancers para serviços de entregas. Em vez de usar motos, que são responsáveis pela maioria dos acidentes de trânsito, os profissionais conectam-se com os clientes por meio de aplicativos como o Dizzy e o Shippify e utilizam as bikes no deslocamento.
O que vem por aí nos próximos anos?
Ao que tudo indica, a transformação digital trará impactos ainda maiores à mobilidade urbana, graças à rapidez promovida pela integração de diversos serviços públicos e sistemas de segurança. Com essa alta conexão urbana, as smart cities serão uma ampla realidade e possibilitarão maior economia, com soluções eficientes e sustentáveis.
Um exemplo são os protótipos de carros autônomos que modificarão completamente o paradigma da bilionária indústria automotiva e de indústrias periféricas (como mineração, financeiras, seguradoras, estacionamentos etc.).
Por atuarem de maneira coordenada e não precisarem de estacionamento, os carros autônomos possibilitarão uma redução drástica nos congestionamentos no número de acidentes. Ainda, contribuirão para a redução do uso de combustíveis fósseis e, consequentemente, da poluição.
Há cidades brasileiras se destacando em mobilidade urbana?
As tecnologias de informação e comunicação (TICs) já estão contribuindo para o crescimento inteligente de algumas cidades no Brasil. Com essas aplicações, é possível melhorar a ocupação geográfica e transformar a vida das pessoas tanto no lado profissional e econômico quanto social, além de trazer soluções sustentáveis para o espaço público.
Além do controle e automação de modais de transporte, essas tecnologias incluem semáforos inteligentes, sinais de pedestre eletrônicos, câmeras de vigilância e os citados sistemas de gerenciamento do transporte público. Entre as metrópoles de maior destaque estão São Paulo e Rio de Janeiro — que tiveram muitos investimentos, especialmente por conta da Copa do Mundo e das Olimpíadas.
Em outro exemplo, o BRT MOVE da capital mineira Belo Horizonte deu maior eficiência ao transporte público da capital. Diariamente, o sistema integrado transporta 480 mil pessoas e o tempo das viagens sofreu redução de até 40%. No MOVE, a rede de informação indica a previsão de chegadas e partidas, além de estar sincronizada com aplicativos como o Moovit.
Com tantos desafios de planejamento, a transformação digital na mobilidade urbana é o futuro para vencer o trânsito caótico das grandes cidades e ter maior qualidade de vida, economia e sustentabilidade.