O enganoso senso da possibilidade de assistir um pouco mais sobre o que acontece no cenário de disrupção está sepultando milhares de empresas, abatidas pela miopia e paralisia corporativa.
A revolução digital deixa cada vez mais clara a dificuldade atual das empresas que, durante décadas atuaram sob a estratégia focada nos recursos internos em detrimento ao cliente e suas necessidades mais implícitas, e agora necessitam se reinventar. Ainda é possível embarcar neste processo e construir novos espaços para o crescimento. Antes, entenda o que mudou.
Com o advento da revolução industrial, empresas surgiram e atuaram buscando crescimento e sustentação com base no domínio do processo produtivo. Com o surgimento de inúmeros concorrentes, a necessidade de melhorias trouxe a preocupação cada vez maior com o produto e suas features.
O amadurecimento do mercado e o excesso de oferta fez com que o processo de vendas se tornasse cada vez mais agressivo e técnico, a fim de garantir o escoamento do estoque. O aumento progressivo da concorrência e a necessidade de aumentar a lucratividade em longo prazo trouxe à tona, finalmente, a preocupação com o elemento fundamental para a sobrevivência de qualquer empresa: o seu cliente.
A esta postura se chamou “orientação para o cliente”, ou seja, a visão de que a satisfação é o elemento-chave da sobrevivência das empresas.
Legado x Inovação
Embora o foco no cliente possa ser considerado uma evolução na orientação das empresas, muitas ainda continuam conduzindo seus negócios conferindo pouca ênfase à satisfação real do seu cliente, em gerar novas experiências de entrega de valor, e sim focando suas maiores preocupações com o âmbito interno à organização.
Algumas, com muito esforço, ainda conseguem “sobreviver” desta forma. Contudo, a revolução digital “escancarou” a necessidade de uma transformação digital sob pena de consequências drásticas para as empresas que ainda continuarem desconsiderando a competência e agilidade necessárias para alcançar sucesso no cenário disruptivo.
Novos modelos de negócios surgem frequentemente, com foco em expertises e competências que preconizam a leitura ágil do mercado e das necessidades dos clientes, gerando ofertas de produtos alinhados à demanda e, na maioria dos casos, com flexibilidade de testes e validações muito rápidas e constantes, antes de eventuais lançamentos/upgrades.
Neste mesmo sentido, o surgimentos das plataformas enquanto modelos de negócios tem redesenhado o cenário de diversos setores de mercado e deixado líderes em “estado de alerta” com a iminente possibilidade de ver seu negócio suplantado até mesmo por uma startup. Marshall Van Alstyne, professor da Universidade de Boston e autor de “Plataformas: a revolução da estratégia” afirma que as plataformas estão “engolindo” os negócios tradicionais baseados em produtos.
Portanto, a ausência de um cenário de mudanças constantes, com ciclos de vida longos de produtos e pouco/baixo poder nas mãos do cliente, proporcionou até então uma abordagem eminentemente interna, que se sustentou por um bom tempo em muitas empresas. Mas isto chegou ao fim.
O processo de Transformação
Com a revolução digital as organizações foram impactadas em cheio e são constantemente ameaçadas por empresas e modelos de negócios que valorizam a jornada do cliente e suas necessidades, bem como as oportunidades de inovação e ampliação da geração de valor.
Infelizmente, a maioria das empresas que não são “nativas digitais” não conseguem acompanhar o ritmo de mudanças e necessidades do mercado, graças as suas estruturas “pesadas” e avessas à inovação e geração de novas fontes de valor.
O “antigo” modelo de negócios sempre esteve atrelado à escala construída pelo lado da oferta e não da demanda. Atualmente, uma série de empresas descobriram e atuam sob a ótica de compreender o surgimento de escalas por parte da demanda (necessidades do público/consumidor), para a partir disto, criarem valor e ofertarem a este público.
É a velha diferença entre a criação de valor sob a lógica do “push” (empurrar produtos) em oposição à oferta gerada na perspectiva do “pull” (soluções oferecidas via conhecimento das necessidades reais do mercado).
Como forma de conduzir as organizações ao alinhamento dos seus negócios para atuarem com sucesso neste ambiente disruptivo, a transformação digital surge como processo vital e necessário. Adequar cultura, processos, pessoas e criação de valor são fundamentais para tornar o negócio apto a enfrentar a incerteza e a velocidade das mudanças sociais, comportamentais, tecnológicas e de consumo.
Embora possa ser definida em um parágrafo, a realização de uma verdadeira transformação digital não consiste em uma ação “Plug-and-Play”.
A Transformação Digital torna as operações e os sistemas digitais projetados para uma visão externa, ou seja, focada na experiência do cliente online e offline. Antes, o cliente costumava ser “um elemento” no processo centrado no produto ou na empresa; agora, os produtos, serviços e experiências são elementos centrado na jornada do cliente. As prioridades mudaram.
Mãos à obra
As empresas tradicionais precisam adotar uma abordagem diferente para projetar e gerenciar a arquitetura empresarial, dando suporte às mudanças contínuas e o design modular das capacidades empresariais, bem como as tecnologias que sustentam estas operações.
É necessário, neste sentido, realinhar estruturas de arquitetura empresarial amplamente conhecidas, mas interligando-as de uma maneira nova. Isso obriga os executivos a ter uma visão abrangente de suas capacidades e tecnologias digitais, gerenciando-as de forma a eliminar boa parte das interdependências e enfatizando a velocidade de ação, sem abrir mão da assertividade.
Às empresas que pretendem avançar neste novo cenário de negócios, torna-se imprescindível investir no processo da Transformação Digital, adaptando-se a um modelo de evolução contínua, com ciclos de desenvolvimento de produtos mais rápidos e maiores eficiências operacionais, em sincronia com as necessidades e expectativas dos clientes.
Garanta o seu lugar nesta jornada. O embarque está sendo concluído.