A melhor definição do que é Transformação Digital não será capaz de salvar nem a mais bem intencionada empresa que esteja buscando fazê-la.

Como há muito tempo se sabe, tão importante quanto uma boa ideia ou conceito, a diferença está na capacidade de execução. É preciso encarar “todo” o trabalho a ser feito e, para isso, contar com os principais protagonistas neste desafio: as pessoas.

Em meio a dezenas de tentativas de definir “o que é?” a Transformação Digital, empresas estão às cegas sem entender  “como?” ela ocorrerá em seu contexto e “com quem?” contará para tal desafio.

A ênfase no “O quê é” faz-se compreensível, pois poucas estão efetivamente realizando transformação, mas sim digitalizando processos ou aprimorando aspectos digitais – não transformando.

Isso não gera conhecimento sobre a real dinâmica de transformação que precisa ser feita pelas empresas. Assim, ficamos apenas olhando para a superfície do tema.

Precisamos abordar os “comos” desta dinâmica. Obviamente, sem buscar uma única fórmula. As empresas possuem condição ainda mais peculiar que um indivíduo se comparado a outro.

Elas são um conjunto de pessoas que, atuando no dia-a-dia, são diferentes de todas as outras existentes, por mais padronizada que seja a atuação da empresa, tornando-a inigualável a qualquer outra. Por isso, precisam trilhar caminhos diferentes umas das outras no que se refere à transformação necessária.

Então, se não há empresas iguais em sua realidade, como acreditar que existiria uma solução tecnológica, uma teoria perfeita ou uma verdade absoluta sobre a melhor forma de realizar a Transformação Digital em uma empresa?

Se você está pensando sobre como realizar esta transformação, com o intuito de manter a sua empresa competitiva e entregando valor superior em seu mercado, pense sobre isso: além de compreender o “como” ela acontecerá é fundamental entender “quem” a realizará. Isso mesmo, uma questão importante ainda está em segundo plano para muitas empresas.

A transformação digital ocorrerá em primeiro momento com (e para) as pessoas que fazem parte da sua empresa. Sem contar com elas, não há tecnologia, metodologia ou pacote de soluções digitais capaz de levar este processo adiante, ao menos na perspectiva de estratégia. Assim, vale investir em compreender 4 itens fundamentais para desenvolver o aspecto humano da Transformação Digital. Continue a leitura e confira-os!

Estabelecer uma visão própria da Transformação Digital para a empresa

É natural que, em meio ao crescente interesse pela Transformação Digital, amplie-se também a variedade de conteúdos e pontos de vista sobre o tema. Contudo, há um momento em que a saturação de informações acaba paralisando eventuais iniciativas das empresas, pelo fato dos seus executivos estarem inseguros quanto ao caminho a seguir.

A tentação é voltar-se para soluções prontas. Em busca de uma “solução perfeita”, alguns acabam preferindo encontrar uma resposta na tecnologia, sem antes ter uma visão estratégica do seu negócio e dos seus reais objetivos de transformação. Um equívoco que pode render grandes frustrações é querer estabelecer a visão com base em algo pronto. A visão de transformação precisa ser estabelecida pela própria organização.

A iniciativa de Transformação Digital precisa estar fundamentada em uma visão clara da estratégia da empresa, sucedida pelo compromisso da alta gestão em investir os recursos necessários para que ela torne-se uma prática efetiva.

Na construção da visão, de forma geral, torna-se fundamental projetar os objetivos que envolvem aumentar o valor entregue através da experiência que as pessoas tem com seus produtos e serviços (sejam elas clientes ou colaboradores), bem como a capacitação necessária para ganhar a agilidade para inovar (contando com a implementação, é claro, não apenas um balde de ideias) de forma contínua.

Essa visão inicial deve partir da alta gestão, tornando-se não apenas mais uma ação isolada, mas um esforço coordenado e multidisciplinar, no qual esteja claro os responsáveis pelas iniciativas e a forma como ocorrerá a governança desta dinâmica. Uma tarefa dessa magnitude não pode ficar ausente de liderança.

Encarar a cultura como estratégia

Abordar a cultura na perspectiva da organização, para muitos executivos, é algo difícil, trabalhoso, por vezes um tema amedrontador. Parece ser mais fácil falar em “estratégia”.

Contudo, já há algum tempo, a frase “a cultura engole a estratégia no café da manhã” (feita por Peter Drucker) tem feito todo sentido, principalmente no cenário atual, o qual demanda uma intensa agilidade e articulação das empresas para darem conta das mudanças e desafios que se modificam com frequência.

Pesquisa recente da McKinsey demonstrou a existência de 3 desafios principais sobre a cultura na perspectiva digital:

  1. Silos funcionais e departamentais;
  2. Medo de correr riscos;
  3. Dificuldade em formar e atuar em uma visão única do cliente.

Para dar conta de avançar nestes itens, por exemplo, a empresa não deve se preocupar em criar uma “cultura perfeita”, mas sim uma “cultura de mudança constante”, desenvolvendo a capacidade de responder à realidade e ritmo dos negócios e da indústria em que atuam.

Para isso, se afaste da noção de que a cultura da sua empresa deva ser “consertada”. Esse pensamento oferece um peso maior do que o desafio proposto.

Ao contrário, pense a mudança de hábitos e crenças como resultado da implantação de novos processos e novas estruturas com o objetivo de enfrentar os novos desafios, especificamente o de se tornar uma organização que sabe atuar no cenário disruptivo, no qual o digital é uma das principais bases da mudança.

“A cultura será adaptada ao novo contexto, de forma viva.”

Para contextualizar melhor a situação brasileira, uma pesquisa recente divulgada pela revista Exame, realizada com 2.000 executivos, cita que 69% afirma necessitar de uma mudança estratégica, mas acredita que a cultura corporativa atual não é capaz de colocá-la em prática.

Portanto, ao lidar com a cultura, considerando o contexto de mudanças necessárias, é de extrema importância atuar com senso de propósito. Os novos desafios, projetos e ações precisam alinhar missão, visão, valores, estratégia, pessoas e demais recursos, em uma dinâmica de mudança que faça sentido, com comunicação e objetivos claros.

Liderar a mudança com convicção

Por décadas, os líderes atuaram (e a maioria ainda atua) sob a incumbência de manter o “comando e controle”, postura que rendeu resultados durante o período em que o mercado, economia e os clientes oferecia pouca demanda por mudanças. O cenário mudou há muito tempo. A liderança, nem tanto.

A perpetuação deste modelo tornou-as pouco capaz de lidar com o contexto de incertezas, no qual as experimentações e investimentos sujeitos a riscos são frequentes e, até mesmo, base de sucesso de muitos negócios atuais.

O mindset rígido, porém, confinou muitas empresas em suas “caixas pretas”, pouco empáticas às jornadas dos seus consumidores, mais apegadas às fórmulas de manutenção da previsibilidade. O resultado, sentimos como consumidores – quase diariamente.

Portanto, realizar a Transformação Digital implica, necessariamente, em promover mudanças, aproveitando-se da tecnologia e da inovação como fonte de recursos para ampliar de forma contínua a entrega de valor e experiências de qualidade para os públicos com os quais a empresa interage.

A mudança não deve ser algo encarado de forma temerosa. Na maioria das vezes, apenas o fato de promover uma nova perspectiva sobre a forma como a empresa pensa seus clientes e colaboradores, e como a tecnologia e a inovação podem gerar benefícios ao negócio, já é suficiente para que uma série de ações sejam desencadeadas em cascata.

A maioria das empresa têm em seus quadros praticamente 3 gerações atuando juntas. Essa diversidade precisa ser utilizada e alavancada pela liderança como fonte de riqueza e geração constante de novas ideias.

Acredite, a maioria de nós vive a mudança todos os dias, mas na maioria das vezes, consideramos apenas como clientes/usuários.

Promover a mudança organizacional, objetivamente, passa pela capacitação das pessoas a perceberem que as boas experiências que vivem como usuários também podem ser criadas a partir do seu próprio fazer enquanto colaborador, e da empresa como promotora de um ambiente propício a esta tarefa.

Em suma, a Transformação Digital é sobre como as pessoas, com mindset adequado, utilizam a tecnologia para criar valor e novas experiências para clientes, parceiros, funcionários, e para elas próprias.

Capacitar para transformar

Sem perceber, muitas empresas estão caindo na armadilha do hype da Transformação Digital e estão agindo sob a lógica:  “É mais fácil adquirir tecnologia do que capacitar estrategicamente e transformar pessoas”. Utilizar a lei do menor esforço pode custar caro em pouco tempo.

Inúmeros são os casos em que empresas estão impedindo o avanço da transformação digital porque estão dando atenção apenas às tecnologias. Isto porque, ao analisarmos mais profundamente a situação, percebemos que muitos executivos não consideram a totalidade das exigências e habilidades necessárias para que o potencial das soluções tecnológicas, para serem aproveitadas, dependem em grande medida de pessoas capacitadas para elevar esta tecnologia a uma condição realmente estratégica – sempre voltada às pessoas.

Vencer no universo dominado pelos nativos digitais requer talentos que vivam e compreendam a lógica da economia digital e das novas experiências de usuário. Como iremos satisfazer nativos digitais com base no mindset e ações da década de 80/90? Neste sentido, as empresas devem capacitar seus talentos para serem agentes de transformação digital.

Considerando a maturidade digital das empresas, há uma diferença muito grande entre elas neste sentido. Mas o que realmente importa é o quanto cada uma delas está investindo na sua transformação.

Entre diversas ações e objetivos, pode-se listar alguns que auxiliam neste processo:

  • Estimular e ampliar o conhecimento, debate e ações que envolvam a Transformação Digital no contexto da empresa e do seu mercado;
  • Promover o conhecimento de novas ferramentas de comunicação e produtividade;
  • Utilizar novas técnicas de geração de ideias e compreensão de cenários;
  • Desenvolver dinâmicas que promovam a colaboração, a co-criação e a noção de agilidade;
  • Ressignificar as funções e equipes, com base em novos projetos e entregas que reduzam os silos;
  • Investir em atividades de imersão contextualizadas aos desafios da empresa, confrontando-os com as bases de pensamento e ação pautados pela transformação digital.

Sobretudo, capacite a sua equipe para ser visionária, pró-ativa e empática, não apenas “motivada” a executar o de sempre. O “de sempre” já morreu.

Investir em pessoas, um caminho promissor

Como pode-se perceber, boa parte dos entraves à transformação digital das empresas não está no acesso a novas tecnologias ou na falta de orçamento para novos projetos, mas sim na pouca atenção à capacitação e transformação inicial das pessoas, os atores principais nesta jornada.

Investir na promoção de agentes da Transformação Digital é a ação necessária para garantir o “fôlego” para os próximos anos, nos quais a  revolução tecnológica será ainda mais impactante e desafiadora.

Se você gostou desse artigo, leia também nosso artigo sobre a Transformação Digital é sobre pessoas, não tecnologia.

 

Mario Flores Neto

Head de Educação Corporativa para empresas no TD Mestre em Administração, Publicitário, Especialista em Marketing e Estratégias Digitais. Conduz processos de Transformação Digital nas organizações, facilitando a implementação das estratégias necessárias nas organizações em direção a modelos disruptivos, permeados pela tecnologia digital.

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