O cenário das startups no Brasil evidencia duas realidades completamente distintas: o ambiente desfavorável para o empreendedorismo e um crescimento significativo do setor.
A ABStartups (Associação Brasileira de Startups), que em 2012 reunia pouco mais de 2,5 mil associadas, hoje conta com mais de 4,2 mil empresas do tipo. No total, o Brasil tem mais de 10 mil startups, movimentando bilhões.
Os números ainda são tímidos se comparados com o cenário dos Estados Unidos e da Europa, mas o crescente volume de capital disponível para investimentos e o de profissionais qualificados dispostos a empreender, apontam na direção de um crescimento contínuo.
Neste artigo, mostraremos o panorama atual das startups no país, que se desenvolvem em um ambiente bastante burocrático, com pouca estrutura logística e tecnológica, além de altas taxas de juros e impostos exorbitantes. Continue a leitura e saiba mais!
A força do empreendedor
Segundo um estudo da Expert Market, uma startup do Texas (EUA), o Brasil está em 5° lugar numa lista de 15 países no que se refere à determinação do empresário em empreender. Na pesquisa, o país se destaca com pontuação 48 quanto ao número de negócios criados (em uma escala de 1 a 130, na qual 1 representa a maior taxa de abertura).
Por outro lado, quando se analisa a dificuldade de empreender, a pontuação é de 125 (seguindo o mesmo critério da escala, em que 130 indica ser mais difícil abrir um negócio). Esses números reforçam o que citamos na introdução: existe uma alta taxa de abertura de empresas, apesar dos grandes riscos percebidos.
É fácil confirmar esse estudo na prática: basta conversar com o fundador de uma startup brasileira. Isso porque ele sabe das dificuldades, mas também percebe que determinados problemas geram oportunidades no Brasil — que são mais raras nos países desenvolvidos.
Outros números referentes às startups no Brasil
Essas empresas estão fazendo a diferença nos mais diversos setores. A seguir, você vai conhecer um pouco mais sobre o cenário em que elas se desenvolvem:
Setores e distribuição geográfica
A maioria das afiliadas da ABStartups está concentrada no estado de São Paulo (31%). Minas Gerais abriga 9% e o Rio de Janeiro 8% do total. Boa parte desses negócios atua no setor de software (5%). Educação e internet aparecem em segundo lugar, empatadas em 4%.
Em seguida, temos os serviços de comunicação e mídia (2%) e as empresas do setor financeiro — as fintechs — com 1% de participação, mas com uma grande evidência de suas atuações: 21% delas atuam no modelo B2B (business-to-business).
Faturamento
Grande parte das startups brasileiras (70%) opera com um faturamento inferior a R$ 50 mil anuais, segundo um levantamento de 2016 realizado em parceria entre a Parallaxis Economia e Ciências de Dados e a Perrotti e Barrueco Advogados. Em contrapartida, 6% delas faturam mais de R$ 500 mil por ano.
Estrutura
Segundo o mesmo estudo, 81% dessas empresas estão formalizadas e 89,5% elaboraram um plano de negócios. Ao mesmo tempo, 70% delas possuem entre dois e quatro sócios, sendo que apenas 21,6% das startups trabalha com funcionários contratados.
Se por um lado isso pode demonstrar um problema estrutural, por outro, a quantidade de sócios é um fator considerado positivo por investidores, que evitam aplicar em empresas de um único sócio.
Isso ocorre porque vários participantes com competências complementares aumentam as chances de sucesso. Além disso, diminuem a rotatividade de pessoas-chave na detenção da tecnologia desenvolvida por esses empreendimentos.
As startups unicórnio
O termo unicórnio é usado para se referir às startups que valem mais de 1 bilhão de dólares, sendo referência no mercado. No Brasil, temos ótimas candidatas para alcançar tal posto. Dentre elas, a 99 Taxi se destaca. Recentemente, ela foi adquirida pela chinesa Didi Chuxing e pode se tornar a primeira unicórnio do Brasil.
Isso não significa que o aplicativo de taxis não terá concorrentes ao posto. Nubank, Movile, PSafe, Netshoes e Hub Prepaid, já superaram o valor de 1 bilhão (em reais). O desafio agora é chegar ao mesmo patamar em dólares.
Estas candidatas conseguiram atrair os principais fundos de investimento do mundo ou possuem parceiros de peso, como a Sequoia, que também apoiou outras iniciativas: Apple, Google, Instagram, WhatsApp e YouTube. Quem também já apostou no setor foi o visionário Jorge Paulo Lemann, homem mais rico do Brasil.
Aceleradoras
São empresas com programas que ajudam a escalar essas startups, ou seja, aceleram o processo para que elas ganhem mercado. Para isso, as aceleradoras aplicam metodologias de mentoria, consultoria, capacitação e vivência experimental, além de proporcionarem acesso a investimentos e recursos.
Em troca dessa contribuição, elas costumam adquirir participação nas beneficiadas em percentuais que variam de caso para caso. Segundo a Fundação Getúlio Vargas, dentre as 230/250 aceleradoras estimadas no mundo, 41 estão no Brasil, o que representa um número significativo.
Elas já aceleraram mais de 1000 startups que foram aportadas com cerca de R$ 51 milhões em investimentos. Isso significa, em média, uma variação entre R$ 45 mil e R$ 255 mil distribuídos por empresa, com o teto de R$ 3 milhões de investimento único.
Desafios do setor
Uma característica marcante dessas empresas é o perfil técnico dos seus fundadores que, em sua maioria, possuem formação em TI, engenharia, física, química, biotecnologia e outras áreas semelhantes. Esse perfil técnico favorece o foco em desenvolvimento de produto no lugar de se voltarem para o mercado.
Porém, esse ambiente de apoio que descrevemos, bem como a valorização do empreendedorismo e o interesse de investidores em acompanhar o desenvolvimento desses negócios, os colocam em contato com as necessidades do cliente.
Investidores valorizam empresas com produtos validados no mercado, ou seja, que já foram experimentados pelo consumidor e ajustados às suas expectativas. O aporte financeiro funciona como combustível para ampliar a atuação da empresa e, em razão disso, os fundadores de startups precisam se capacitar nas práticas de marketing e vendas, se desejarem receber recursos.
Normalmente, os investimentos nos processos iniciais de pesquisa, desenvolvimento e inovação ficam por conta de verbas próprias ou públicas. A Finep, por exemplo, ofereceu programas como o Tecnova, que investiu milhões em verbas a fundo perdido, privilegiando iniciativas de maior risco tecnológico, pois têm mais dificuldade de levantar recursos.
O maior desafio está exatamente no financiamento desses empreendimentos. Os empresários do setor costumam reclamar da falta de interesse dos bancos em financiar o setor, o que é natural devido ao risco e à falta de garantias se considerarmos o perfil tradicional dessas instituições.
Os investidores independentes (chamados de investidores anjo) ainda oferecem recursos limitados em comparação com o ambiente dos Estados Unidos, por exemplo. Por isso, raramente investem nos negócios em fases iniciais. E para preencher essa lacuna, as verbas públicas ainda estão longe do patamar ideal.
Neste post, você percebeu como as startups no Brasil têm potencial para gerar riquezas e movimentar a nossa economia. Para isso, é preciso explorar as oportunidades, aprimorar os conhecimentos e, principalmente, ter interesse pela inovação e empreendedorismo.
Gostou do nosso artigo? Então aproveite para conferir agora mesmo uma análise sobre as aceleradoras de startup no Brasil.