A evolução das tecnologias digitais está mudando drasticamente a forma como fazemos negócios. O future-proof é um conceito fundamental para pensar essa transformação no longo prazo.

Ele contribui para que os profissionais assumam o papel de agentes na mudança. Se você se preocupa com a competitividade e entende a importância da inovação para alcançar esse objetivo, precisa conhecer o conceito:

O future-proof

O future-proof deve ser entendido como uma mentalidade a ser seguida, não um conceito puramente aplicado a produtos, serviços e tecnologias. Basicamente, a definição do termo passa pela ideia de repensar as estratégias atuais para definir como deverão ser aplicadas no futuro, com base em como as pessoas interagirão com as novas tecnologias.

Desse ponto de vista, trata-se de um modelo que permite que as empresas se preparem para o futuro. Obviamente, não é uma tarefa fácil, principalmente porque a tendência é de que nos deixemos influenciar exageradamente pelas promessas das novas tecnologias, como a IoT, a impressão 3D, os carros autônomos e assim por diante. Afinal, elas são realmente empolgantes e é certo que têm alta relevância.

Contudo, ao contrário das tendências relacionadas ao modo de vida que as pessoas desejam, a maioria dessas expectativas de transformação só se torna evidente quando atingem certo nível de maturidade, pois levam tempo para serem desenvolvidas. Pode ser tarde para assumir uma posição de destaque no mercado para quem decidir aguardar que esse momento chegue para agir.

Por isso, é preciso pensar no longo prazo, algo que ficará mais evidente com a leitura do próximo tópico.

As respostas fundamentais sobre o future-proof

Em um artigo publicado na ForbesAlice Mann, autora da obra Future First, responde a 4 perguntas sobre o tema que são esclarecedoras.

Que desafios globais sua empresa precisa resolver?

Segundo a autora, as empresas deveriam considerar problemas, como a mudança climática e a escassez de recursos como desafios de inovação e não soluções impossíveis, mesmo que elas sejam difíceis e de longo prazo. Principalmente, porque grandes empresas resolvem grandes problemas e uma visão ousada e visionária permite empreender com uma perspectiva de 10 a 20 anos — algo difícil para a maioria dos negócios na atualidade.

Ela cita como exemplo o caso do Toyota Prius, um carro híbrido que foi pensado há 20 anos. Naquela época, desenvolver um veículo sustentável com autonomia e bom desempenho era impensável, mas a montadora japonesa chegou lá, ganhou um mercado que não existia e que agora já apresenta concorrência — especialmente da Tesla.

Como as mudanças no estilo de vida e nos valores culturais podem transformar a empresa para a próxima geração?

“Tendências futuras na cultura, estilo de vida e valores são difíceis de prever. Mas você pode começar por identificar as premissas culturais atuais do seu negócio e formular hipóteses sobre como elas podem mudar no futuro”.

Nessa resposta, Alice faz uma importante colocação sobre a natureza do future-proof: “não se trata de tecnologia”. É preciso pensar sobre quem serão os futuros clientes, como eles raciocinarão, viverão, trabalharão e se entreterão, pois é o estilo de vida que define o que será exigido dos produtos, serviços e das marcas.

Ela volta a usar o exemplo do Prius para deduzir as perguntas feitas na época pelos desenvolvedores do veículo: “[…] os consumidores pensariam que o Prius vinha com uma extensão? Eles se preocupariam em ser eletrocutados na chuva? Estariam dispostos a pagar mais pela tecnologia híbrida?”.

Como resultado dessa iniciativa e de todo um contexto de mercado, que inclui alta do preço de combustíveis, logo os consumidores passaram a desejar mais carros do que a montadora japonesa podia produzir.

Quais são os potenciais de investir em seus produtos atuais em comparação com sua indústria futura?

“Às vezes, o melhor momento para investir em tecnologia e modelos de negócios inovadores é quando os principais produtos de sua empresa estão vendendo bem”, diz a autora. Ela sugere que os gestores se perguntem o que garante o fluxo de receita no curto prazo e, ao mesmo tempo, quais as apostas de inovações são capazes de garantir o posicionamento da empresa no futuro.

Para quem tem dúvidas sobre isso, basta observar o comportamento das ações da Toyota após o lançamento do Prius. A empresa já figurava entre os fabricantes mais bem-sucedidos do mundo, mas teria dispensado um grande mercado se não tivesse apostado na tecnologia híbrida, ou melhor, no modo de vida atual, que faz com que um público numeroso esteja disposto a pagar um preço justo por sustentabilidade e economia.

Quem são seus parceiros em potencial no futuro setor?

Alice insiste no exemplo do setor automotivo e traça um histórico revelador. Confira:

“Logo após o lançamento do Prius nos Estados Unidos, o vice-presidente de desenvolvimento de produtos da GM, Robert Lutz, descartou a tecnologia híbrida como uma “curiosidade” que a GM não tinha planos de competir.

Sua determinação durou um ano inteiro. Em 2005 — depois de ver, nas palavras de Lutz, “o sucesso manifesto do Prius” — a GM anunciou planos para desenvolver um híbrido com a BMW. Enquanto isso, a Audi apresentou o primeiro híbrido europeu, e a Porsche, a Volkswagen e a DaimlerChrysler se esforçavam para lançar suas versões.

Em seguida, veio a Tesla, em parceria com a Panasonic, para desenvolver baterias elétricas mais baratas e, com o Google, para desenvolver recursos de direção autônomos. Tanto a Uber quanto a Lyft fazem parceria com companhias de seguros para fornecer opções para seus motoristas. Na verdade, a outrora limitada variedade de empresas no ecossistema automotivo, agora inclui Apple, Alphabet, Avis, Tata e Uber, juntamente com fabricantes tradicionais como a GM ou a Audi.”

O que podemos concluir dessa última resposta é que cada vez mais as empresas precisarão de parcerias. Outro bom exemplo é o das Fintechs. Os grandes bancos decidiram investir em um modelo de inovação aberta e fomentar o ambiente das startups para incorporar novas práticas e tecnologias. A multiplicidade de competências necessárias ao desenvolvimento de novas soluções é determinante para que isso ocorra.

A aplicação do future-proof

Um “Centro de Inovação” é uma boa forma de construir uma cultura visionária para um negócio. A missão deste Hub é explorar e validar novos produtos, mercados, modelos de negócios e capacidades que possam ajudar a cumprir a visão futura da organização.

Obviamente, desde que funcione de forma integrada, pois a inovação não é uma atividade isolada de um único departamento. Por isso, ele deve possuir as seguintes características:

  • profissionais visionários: capazes de criar as condições necessárias para uma cultura de experimentação e pensamento futurista;
  • foco na exploração dos mercados e capacidades existentes ou adjacentes ao negócio: que atendam aos clientes novos e existentes;
  • equipes multidisciplinares: incluindo vários recursos de tecnologia, produto, líderes de negócios, especialistas de mercado, marketing e operações que trabalhem juntas;
  • integração com o core business: as ideias podem ser iniciadas e estimuladas pelo centro de inovação, mas é essencial um modelo operacional central e a execução dos projetos em escala;
  • pequenos investimentos com aumentos graduais: à medida que o valor das ideias é comprovado com teste de mercado;
  • desapego ao fracasso: também é importante saber identificar o momento de abandonar ideias sem perspectiva de aceitação pelo mercado;
  • embasamento em dados: sempre que possível é determinante que as decisões sejam baseadas em dados e insights;
  • capacidade e qualificação: o conhecimento deve ser perseguido e compartilhado. A equipe de inovação deve atuar como agente de comunicação para garantir que a organização como um todo se torne consciente e envolvida;
  • novas metodologias: dentre as capacitações, a desenvoltura no uso de novas metodologias e ferramentas tecnológicas são determinantes, bem como um espaço bem projetado, que pode ajudar a inspirar a criatividade e a colaboração.

Para concluir, vale mencionar que o future-proof depende diretamente de uma equipe, seja com a utilização ou não de um laboratório ou qualquer metodologia. Essa é uma iniciativa feita por pessoas e para pessoas — validada com base no modo de vida que elas desejarão no futuro.

Para continuar aprendendo, descubra novos modelos que transformarão o futuro do trabalho!

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