Diversidade. Empoderamento. Empatia. Acessibilidade. Todas essas palavras estão na moda. Os conceitos estão circulando por aí, na publicidade, nos discursos e na comunicação das empresas. E na prática, elas estão sendo aplicadas?
Falar sobre tudo isso é importante e urgente, mas como esse texto veio para problematizar, dorme com essa: usar os conceitos de maneira equivocada e surfar na onda da desconstrução sem intenção real de mudança é tão ruim quanto achar que tudo não passa de mimimi.
Quando você usa palavras e ideias de maneira errada, esvazia o conceito, o discurso e os esforços reais que buscam a igualdade, tanto na sociedade, quanto no mercado de trabalho. Se você atende um cliente assim, é seu trabalho como agência alertar que a marca dele está fazendo isso bem errado.
De que adianta, por exemplo, uma marca pregar empoderamento negro, homossexual ou de mulheres em seu produtos e campanhas, e não ter um programa sólido com seus colaboradores? O primeiro passo para convencer seu cliente a repensar o discurso vazio, é mostrar para ele que a diversidade pode ser uma questão prática.
Uma equipe diversa é capaz de criar soluções mais abrangentes, além de evitar que os preconceitos e discursos equivocados sejam propagados por aí. Como me disse Leco Vilela, líder de comunidade da Umbler: “Com mais diversidade na empresa, você possibilita que seus funcionários coexistam e saibam lidar com a diferença, além de desenvolver profissionais mais empáticos e conscientes”. Só vejo ganhos, e você?
Eu sei o que você está pensando. Você já fez planos, já alertou, já mostrou por A mais B que é preciso uma cultura sólida de diversidade antes de sair por aí falando sobre ela com propriedade e seu cliente não deu tanta atenção assim. Acertei?
Use suas armas à seu favor! A publicidade ama um benchmarking, não é mesmo? Então saia por aí apontando empresas que apostam em diversidade de maneira real e mostre a seu cliente o quanto isso gera impacto positivo para o negócio, para a marca e para sociedade, claro.
Se a gente olhar para o mercado de tecnologia, encontramos vários exemplos. Vou citar alguns que conheço bem de perto e, por isso, posso falar com propriedade.
UMBLER
Para esta empresa brasileira, a diversidade está diretamente ligada à inovação. Diferentes olhares, trazem diferentes ideias. Por isso, a Umbler adotou um novo mindset, que dá mais valor ao ser humano do que, necessariamente, às suas habilidades técnicas específicas. “Essa nova visão nos fez entender que tínhamos um perfil homogêneo de equipe. Como sair desse looping? Promovendo o debate de ideias para desconstruir preconceitos e adotando uma estratégia agressiva de diversidade nos times”, explica Anderson Vianna, Líder de Gestão de Pessoas da Umbler.
A empresa também foca sua campanha de marketing em destacar histórias de profissionais de tecnologia fora desse padrão branco, cis, heterossexual e masculino, valorizando a diversidade e contando as histórias “esquecidas”. Além disso, procura estar presente em eventos que fomentem a diversidade na tecnologia.
FACEBOOK BRASIL
Se você já visitou a sede da empresa de Mark Zuckerberg em São Paulo, com certeza se deparou com cartazes de empoderamento feminino e homossexual colados nas paredes. Mas o assunto não fica só na decoração do escritório. O Facebook tem grupos de discussão dentro da empresa para incentivar lideranças femininas, gays e negras. A política de diversidade está no DNA da rede social. Colaboradores recebem treinamento para lidar com a pluralidade de maneira e empática e respeitosa, e a política de assédio é rigorosa.
Tudo isso é possível porque, no caso do Facebook, o exemplo vem de cima. Sheryl Sandberg, COO da plataforma, é conhecida por seu discurso de empoderamento feminino no mercado corporativo, fomentando a ideia de que as mulheres precisam chegar aos cargos de liderança para mudar a estrutura das empresas em relação à questão de gênero. Autora do livro “Faça Acontecer – Mulheres, Trabalho e a Vontade de Liderar”, Sheryl é responsável pelo apoio do Facebook à iniciativas de igualdade nos EUA e em outros lugares do mundo.
Olhando de dentro, obviamente seria hipócrita dizer que a empresa é 100% diversa. Uma passada de olho rápida pelo escritório e você identifica uma predominância branca e masculina, mas tornar o respeito e a empatia parte essencial da cultura de uma empresa e fomentar isso no mercado em que a empresa atua é um passo importante e essencial. E se você tem a visibilidade do Facebook, torna-se um exemplo positivo é fundamental.
Lembra do engenheiro que foi demitido por escrever um memorando de 10 páginas sobre o “porquê mulheres são menos inteligentes do que os homens”? Na época, ele se disse “coagido” pela empresa por não poder “expressar opiniões”, pois elas eram “consideradas sexistas”.
Eu não sei vocês, mas saber que alguém se sentiu incomodado por não poder expressar seus preconceitos me diz, de algumas forma, que as coisas estão caminhando para o rumo certo. Uma empresa como o Google precisa se posicionar sobre esse assunto. Uma vez que ela faz isso, outras empresas, usuários e profissionais, passam a refletir sobre o que está acontecendo e o que precisa mudar. De novo, ser um bom exemplo é essencial quando se está no topo da pirâmide do mercado.
Além do discurso inclusivo, o que essas três empresas têm em comum é o orgulho que geram em seus funcionários. Trabalhar em grandes empresas de tecnologia é status e esse sentimento pode ser convertido em algo positivo, por que não?
Com políticas mais plurais, essas empresas ensinam a seus colaboradores a conviver, respeitar e entender a importância da diversidade. Então, esse amor em fazer parte dessas empresas ajuda a levar o discurso inclusivo para fora, impactando a rede que cerca esse colaborador e gerando uma escalabilidade de respeito e mudança.
Não se engane, toda empresa precisa crescer e ganhar dinheiro, mas é possível atrelar esse crescimento e o lucro a impactos realmente positivos na sociedade. Você não acha?
Texto produzido pela Juliana Destro, autor convidado.