Certamente quando pensamos em um economista, um dos últimos adjetivos que nos vêm à cabeça é “criativo”. Lidar com números e projeções de mercado nem sempre é visto como um trabalho que demanda essa característica, mas os conceitos sobre economia vêm mudando e vamos hoje apresentar uma nova tendência econômica, a Economia Criativa.

O que antes se mostrava apenas como um campo preocupado com a regulação da produção, distribuição e consumo de bens, dá espaço para a emergência de uma indústria que vende ideias e soluções para o dia a dia das pessoas em todo o mundo.

É o único tipo de economia onde a imaginação e a criatividade influenciam as decisões de compra porque agrega os valores econômicos e culturais, gerando riqueza, impacto social e diversidade.

A criação de valores é algo essencial e traz retornos significativos para as marcas engajadas, já que a matéria prima que oferecem é a criatividade e o capital intelectual, ou seja, conteúdo criativo com valor econômico.

Historicamente, as muitas atividades que tinham raízes culturais fortes, como o teatro, a dança, a música e o cinema, eram incluídas no que se conhecia como Indústria Cultural. Termo bastante controverso, pois muitos artistas sentiam que era degradante para o que eles faziam ser taxado como uma indústria.

E, embora não constituíssem um setor industrial facilmente identificado como outros tipos existentes (automobilística, agropecuária, têxtil, etc.), uma coisa que todas essas atividades tinham em comum era que elas dependiam do talento criativo dos indivíduos e da geração de propriedade intelectual.

Além disso, pensá-las como um setor, por mais arbitrária que seja a sua definição, chamou a atenção para o fato de serem parte ou terem contribuído para uma ampla gama de indústrias e profissões, desde a publicidade até o turismo, e já começavam a despontar evidências de que as habilidades e estilos de trabalho do setor criativo iriam impactar outras áreas da economia, especialmente o setor tecnológico e digital.

Sabendo um pouco sobre o que é Economia Criativa, vamos seguir pensando em como ela atua e como tem feito parte de nossas vidas.

Onde a Economia Criativa atua

O termo “Economia Criativa”, como conceito, foi definido por John Howkins, pesquisador britânico e professor de diversas universidades, em seu livro The Creative Economy: How People Make Money from Ideas (Economia Criativa: como as pessoas fazem dinheiro através de ideias), lançado em 2001.

Howkins mostra como funcionam os negócios gerados a partir da criatividade, apontando para um novo formato de economia, a qual separou em 14 seguimentos:

  • Arquitetura e Urbanismo;
  • Artesanato;
  • Artes Cênicas;
  • Artes e Antiguidades;
  • Audiovisual;
  • Design;
  • Editoração;
  • Fotografia;
  • Gastronomia;
  • Moda;
  • Música;
  • Publicidade;
  • Software;
  • Rádio e TV.

Os setores dentro da Economia Criativa têm um grande potencial e crescem em torno de 10% a 20% ao ano. Os lucros gerados ficaram em torno de 104 bilhões em 2010 no Brasil, conforme o vídeo abaixo, que representa apenas 2,84% do nosso PIB, o que significa que ainda temos muito espaço para crescer.

Empregos criativos na era digital

Acompanhamos todos os dias o aumento das ocupações criativas. Em 2010 eram 865.881 pessoas que ocupavam esses cargos, o que representa 1,96% dos empregos formais.

O temor pela automação é substituído pela empolgação frente à potencialidade do mercado na era da transformação digital. E a chamada “Quarta Revolução Industrial” se anuncia, o que certamente terá um grande impacto no emprego globalmente.

Mas um estudo de 2015 da NESTA, uma fundação voltada para a inovação digital, chamado “Criatividade versus Robôs”, mostrou que o setor criativo é, em certa medida, imune a essa ameaça, com 86% dos empregos “altamente criativos” nos EUA e 87% no Reino Unido, correndo riscos muito baixos de deslocamento por causa da automação.

Milhares de pequenas e micro empresas, que estão na vanguarda da criatividade, podem não só ter um significado econômico crescente, mas, de certo modo, darem rumo a uma nova ordem econômica, fornecendo um novo modelo para a forma como as empresas são organizadas, como a educação é compreendida e fornecida, como o valor é medido, assim como as vidas e as perspectivas de carreira de milhões de pessoas e como as cidades em que vivem serão planejadas e construídas.

Por ser sustentável, a Economia Criativa gera empregos, constrói redes, infraestrutura e colaboratividade. Impulsiona novas ideias, novas conexões e modelos de negócios. Reaviva áreas urbanas, preservando o patrimônio cultural do país.

A Economia Criativa lida com ideias e dinheiro

Uma economia criativa é medida como qualquer outra: demanda, preço, lucro e margens.

Apesar dos seguimentos terem valores e modelos de negócios diferentes, são unidos por pessoas que se apaixonam por novos conceitos e desenvolvem novas ideias como parte de seu trabalho diário.

O reconhecimento de muitos desses negócios se deve à tecnologia e podemos dizer que a arte nunca deixará de existir, mas o modo de fazer arte já foi reinventado.

As técnicas clássicas se mesclam com a criação por meio de equipamentos eletrônicos. As exposições hoje têm instalações e performances. O público interage com a obra e, caso não seja possível estar presente no local, muitos podem acompanhar diretamente das telas de seus computadores e smartphones.

São expressões artísticas e culturais que carregam mudanças no cenário atual sem que se perca a essência, mas agregando valor e sendo mais acessíveis a todos.

Podemos falar de diversos outros modelos de economia criativa onde a tecnologia está relacionada além das artes. Os projetos são financiados de forma colaborativa e divulgados pela internet, criando uma rede de participação para os mais diversos fins.

As “vaquinhas” online são uma forma de arrecadar fundos e de engajar uma multidão a favor de um propósito comum, em uma causa que mexe com as suas almas.

Desde projetos particulares, que envolvem algum tipo de software, até projetos de ONGs, muitos deles são tirados do papel por meio dessa contribuição que recebem. Em troca, alguma recompensa é oferecida como divulgações, materiais didáticos, pequenos brindes, descontos em produtos, etc.

Colaborando para um futuro sustentável

A colaboração é um dos pilares da Economia Criativa porque hoje as pessoas podem dar vida as suas ideias e participar de projetos em qualquer lugar do globo terrestre. Simpatizar e lutar por causas que compartilhem dos seus valores.

A transformação digital permite que quaisquer pessoas possam realizar suas ideias, sendo elas ricas ou pobres, de qualquer raça, religião ou opção sexual.

No coração das mudanças está a determinação dos indivíduos em pensar de forma nova e muitas vezes surpreendente para melhorar a vida de outros.

O aumento da Economia Criativa marca algumas mudanças: está levando novas ideias sobre como e onde as pessoas trabalham e está começando a reformular nossas cidades. Está mudando as relações entre trabalhadores, empregadores e investidores. Está impulsionando as novas startups digitais, afetando a educação e alterando a natureza dos empregos.

A demanda por novas soluções e recursos inovadores é o papel dessa economia do século XXI, marcada por cada vez mais exaltar a criatividade e a quebra de padrões pré-estabelecidos para contribuir com o desenvolvimento de uma sociedade mais sustentável no futuro.

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