Costumo tomar cuidado com o que leio. Melhor dizendo: com o que aceito como verdade absoluta, ainda que esteja respaldado por números. Pesquisas e manchetes com letras garrafais já não me convencem de muita coisa há algum tempo.
Mas existe um levantamento, em especial, que me dá arrepios: aquele que mensura o tempo em que nós, brasileiros, passamos na internet – mais precisamente, quanto tempo navegamos diariamente por rede sociais.
Este tempo investido, especificamente, explica muita coisa. Primeiro, indica porque somos tão criativos, rápidos e certeiros no espalhamento de notícias, na produção de memes e notícias bem-humoradas.
Evidente que talento ajuda, a nossa cultura idem, mas o treino diário é que nos diferencia. Somos o que somos na web, para o bem, porque praticamos permanentemente os exercícios da inventividade e da socialização.
Diz um velho ditado que “A mão que afaga é a mesma que apedreja”, logo, o mesmo tempo dispensado à rede social pode ser – e ao meu ver o é – igualmente nocivo quando atrás da tela se escondem haters, ativistas de sofá e especialistas de comentários.
Note que não falo aqui dos comentaristas precisos e necessários, que com uma simples interação divertem e se sobrepõem ao autor, quando não ao artigo todo.
Falo daqueles que vivem para o barraco, o ataque e a ofensa pessoal.
Há alguns bons anos, desisti de toda e qualquer discussão em minhas timelines. Por uma razão óbvia: rede social é vida pública, e não privada.
Passei então a utilizar minhas redes como laboratório de testes e observação do comportamento humano, característica essa que me ajuda desde sempre no trabalho e na vida pessoal. Observar, às vezes mais do que interagir, vem sendo rico e libertador.
Primeiro, confirma que gente tacanha, preconceituosos, racistas e imbecis políticos de plantão sempre existiram. E que a diferença, agora, é que convivemos com eles diariamente, até que o block nos separe.
Os algoritmos até tentam nos desviar dos conteúdos que “não curtimos” (como se fosse possível) e dos chatos de plantão. Mas eles resistem, se digladiando a cada post, nos cobrando por comentários que competem exclusivamente a nós, que falam tão-só das nossas vidas e opinando sobre tudo e todos, como se fosse possível preencher esse vazio existencial deles – que é impreenchível.
Não há Transformação Digital que dê conta dos abismos da alma humana. Já a Transformação Humana pode, sim, fazer toda diferença no digital.