Os benefícios do trabalho a distância são inegáveis: não perder horas diárias no trânsito, ter horários flexíveis, eliminar a pressão de bater cartão, além de deixar para trás a dor de cabeça com o “dresscode” corporativo. Parece interessante, não?
Sim, o home office é mais que uma tendência, é uma necessidade decorrente dos novos modelos de organização social: os engarrafamentos diários nas grandes metrópoles, os altíssimos índices de estresse dos profissionais e a necessidade de elevar a produtividade empresarial empurram os gestores a pensarem novas formas de estruturar a atividade laboral.
Nessa perspectiva, o trabalho a distância surge como uma oportunidade áurea de vincular qualidade de vida a aumento da produção.
Mas será que você tem perfil para trabalhar remotamente? Em casa, as tentações para a distração — como aquela zapeada na TV ou uma soneca inadvertida — podem colocar por água abaixo todo seu projeto de carreira.
Antes de conceder teletrabalho aos seus funcionários — ou antes de aceitar esse formato laboral —, é preciso considerar uma série de fatores, e é sobre eles que falaremos a partir de agora!
Trabalho a distância no mundo
O termo telework surgiu em 1973, nos Estados Unidos, quando o engenheiro da Força Aérea nacional, Jack Nilles, previu que o uso dos instrumentos telemáticos poderia eliminar a necessidade de comparecimento ao escritório físico para trabalhar.
Com o desenvolvimento dos computadores pessoais (PCs) e, mais recentemente, da internet, o paradigma taylorista (fundado na hierarquia rígida, na repetição exaustiva de tarefas e no extremo controle visual de cada profissional da linha de montagem) foi definitivamente colocado em xeque em nome de novos referenciais trazidos pela web.
Atualmente, 43% da população economicamente ativa dos Estados Unidos trabalha ao menos parcialmente em regime de teletrabalho; na Suécia, são 32% atuando em suas casas; na Alemanha, estima-se que 40% dos postos de trabalho seriam adequados ao modelo remoto.
Mas, e no Brasil?
Embora não existam ainda dados mundialmente padronizados sobre o tema, um estudo da SAP Consultores Associados revelou que 36% das empresas brasileiras adotam práticas de trabalho remoto, percentual que explica como a Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades chegou à estimativa de que haja atualmente cerca de 12 milhões de brasileiros em regime de trabalho à distância.
O teletrabalho é um caminho sem volta, especialmente em uma cidade como São Paulo, cujos habitantes perdem anualmente, em média, o equivalente a 45 dias presos no trânsito. Mas há questões a serem observadas.
Vantagens e desvantagens do homeoffice
Aos empregados, os maiores benefícios desse modelo laboral é a possibilidade de fazer seus próprios horários, elevando seu tempo de convívio familiar e possibilitando maior investimento em qualidade de vida. Os pontos fracos, no entanto, são o afastamento da equipe de trabalho, eventuais dificuldades de concentração — fruto da mescla entre escritório e casa —, além de possíveis ruídos de comunicação entre os times da empresa.
Para as empresas, o aumento de produtividade é a grande vantagem na concessão dessa flexibilidade — levantamento da Universidade de Stanford mostra que a performance de quem trabalha do conforto de seu lar é cerca de 13% maior do que a dos trabalhadores tradicionais.
Por outro lado, há alguns desafios que as organizações devem enfrentar na modelagem desse regime:
01. Dificuldade em trazer inovações com colaboradores geograficamente distantes
A capacidade de se reinventar é o que separa as empresas estagnadas das bem-sucedidas. O cenário atual de extrema concorrência e de pulverização das fronteiras geográfico-comerciais — por força da internet — faz com que o lançamento de hoje esteja fadado a se tornar o “antiquário” de amanhã.
Nesse contexto, manter equipes criativas sem proximidade física entre seus membros é um desafio e tanto nessa era de negócios digitais.
02. Imprecisão no diagnóstico antecipado de quem tem perfil para fazer trabalho a distância
O teletrabalho traz elevação na produtividade apenas dos funcionários autogerenciáveis, extremamente disciplinados e que sabem lidar bem com prazos — descumprimento de deadline é, aliás, a maior causa de solicitação de retorno aos escritórios.
Como as sucessivas liberações e retornos dos profissionais pode desequilibrar o clima organizacional, é preciso ter visão para entender previamente quem tem ou não perfil para atuar em trabalho remoto.
03. Problemas de ordem jurídica decorrentes dessa flexibilidade
A possibilidade real de aumento das ações trabalhistas — sobretudo pela dificuldade de comprovação da jornada desses profissionais — é outro desafio que não deve ser esquecido pelas empresas. Essa demanda recém-surgida tem estimulado o aparecimento de um novo consultor nas empresas, o Especialista em Direito Digital.
Funções e cargos que são comumente atrelados ao trabalho a distância
Diante de tantos desafios, como explicar a imensidão de empresas alinhadas com essa nova forma de enxergar a produção?
A resposta está em um levantamento recente feito pela Dell, que mostrou que, entre os profissionais brasileiros que fazem homeoffice, 49% reduziram seus níveis de estresse após a adoção desse formato laboral; 45% perdem menos tempo no trânsito, 33% ampliaram sua carga diária de sono, 52% têm mais tempo para a família e, o principal, 54% são mais produtivos.
Há profissões que, pelas peculiaridades de suas atividades, facilitam seu desempenho de forma remota. Especialistas apontam as áreas de Vendas, Tecnologia da Informação, Marketing e Recursos Humanos entre as que mais contratam em regime de trabalho a distância. Mas a gama de possibilidades é muito mais extensa.
Um exemplo é a proliferação dos institutos educacionais a distância, que utilizam, evidentemente, corpo docente que atua remotamente, mediante gravação de vídeos e divulgação de materiais didáticos em plataformas on-line.
O trabalho a distância tende a crescer também em áreas como Direito, Contabilidade, Psicologia — aonde ainda há restrições regulamentares sobre o tema — e até na Administração Pública. As funções e cargos que apresentam, pelas suas próprias características, dificuldades para serem executadas de forma flexível, tendem a ser remodeladas ou, em alguns casos extremos, até mesmo extintas, dentro desse furacão chamado transformação digital.
Como a tecnologia pode levar mais trabalhos para serem realizados a distância
A chegada do 5G, bem como a proliferação dos dispositivos baseados em Internet das Coisas (IoT), machine learning e realidade virtual/aumentada inevitavelmente ampliarão ainda mais a possibilidade de realização de atividades a distância.
A partir dessa conjunção de tecnologias físicas, digitais e biológicas, testes de aptidão na condução de veículos poderão ser feitos por meio de simuladores; projetos arquitetônicos se materializarão a partir do trabalho executado na casa dos profissionais; até mesmo a simulação de procedimentos cirúrgicos em residências médicas pode tomar forma a partir da casa dos estudantes.
A Medicina é, aliás, uma das áreas que mais devem ser transformadas pelo trabalho remoto. Em uma era de radiologia digital, por exemplo, em que todos os dados são armazenados em nuvem, e em que é cada vez mais comum o uso dos dispositivos vestíveis (wearables) no monitoramento e diagnóstico de patologias, a tendência é que os normativos que proíbem atualmente o trabalho on-line na área médica sejam revistos e flexibilizados.