“Que comece o matriarcado”. A frase, que se tornou famosa na voz da personagem Náirobi, da série “Casa de Papel”, pode ser aplicada também no mundo dos negócios. As startups, acredite se quiser, vêm revolucionando o mercado também pelo espaço que vêm abrindo para o protagonismo das mulheres.
Embora as empreendedoras representem apenas cerca de 10% das dirigentes das startups, seus negócios têm gerado impacto significativo em alguns segmentos da economia. Embora ainda sejam minoria, as mulheres ocupam cada vez mais cargos de liderança nessas empresas e contribuem para mudar o perfil de um setor dos negócios até então dominado pelos homens.
Você já conhece as startups lideradas por mulheres? Sabe quais são os números que o sexo feminino ocupa neste setor dos negócios? Veja, a seguir, um panorama sobre o protagonismo das mulheres no cenário das startups:
O desempenho das startups lideradas por mulheres
A busca por novas oportunidades e melhores salários vem levando cada vez mais mulheres a empreender. Pesquisa do Boston Consulting Group aponta que, mesmo recebendo menos investimentos, as startups lideradas por mulheres são muito eficientes e trazem retorno maior do que do aquelas fundadas por homens. A pesquisa analisou 350 startups aceleradas em programas do MassChallenge, entre as quais 258 foram fundadas por homens e 92 por mulheres.
Os resultados da pesquisa mostram que as empresas lideradas pelo sexo feminino receberam, em média, US$ 935 mil em investimentos de capital de risco, enquanto aquelas fundadas por homens receberam US$ 2,1 milhões. Ainda assim, as startups lideradas por mulheres geraram receita 12% maior em renda acumulada em um período de cinco anos.
As dificuldades ainda são grandes
O preconceito é um dos motivos principais para que as startups dirigidas por mulheres recebam menos investimentos. Os investidores aparentemente pensam que as mulheres não possuem conhecimento e experiência nos negócios. De acordo com a pesquisa do Boston Group, as empreendedoras são mais questionadas sobre o seu conhecimento básico para liderar o negócio que os homens.
Além disso, as empreendedoras são associadas à imagem de que não respondem diretamente às críticas e de que não assumem posições tão ousadas e arriscadas quanto os homens nos negócios.
As mulheres também continuam tendo de assumir a maior parte da responsabilidade pelo trabalho doméstico. Geralmente, elas precisam se desdobrar para poder conciliar o trabalho com a vida familiar e realizar sozinhas as tarefas domésticas, como cozinhar, arrumar a casa, levar os filhos para a escola, entre outras tarefas, sem poder contar com a ajuda dos maridos.
Aposte no empreendedorismo feminino
O resultado desses preconceitos associados às mulheres é que as startups lideradas por elas atraem menos investimento que os homens em um cenário de crescimento das startups. Mesmo apresentando um desempenho superior ao dos homens, elas ainda carregam os estigmas herdados de uma sociedade machista.
Uma pesquisa realizada pela Techolics, em parceria com a RedFox Digital Solutions, demonstra que os boards de investimento contendo mulheres recebem, em média, 90% menos investimento do que aqueles compostos somente por homens.
Conquistar a confiança dos investidores é fundamental para que as mulheres possam ter mais oportunidades para criar as suas startups. Uma presença maior de investidoras do sexo feminino seria também um passo importante para mudar a realidade atual, pois poderia haver maior empatia entre as empreendedoras e investidoras mulheres.
O desafio das mulheres na área de tecnologia
Outro fator que dificulta o avanço das mulheres na liderança das startups é que a área de tecnologia ainda é preponderantemente ocupada por homens. Embora demonstrem interesse pela área de tecnologia, apenas 18% dos graduados em Ciências da Computação no mundo e apenas 25% da força de trabalho da indústria digital são mulheres, de acordo com a ONU Mulheres.
A maioria dos programadores ainda é formada por homens, dificultando o acesso do sexo feminino a essa área econômica tão importante nos tempos atuais de transformação digital. Por isso, é preciso buscar novas formas de empoderamento para que as mulheres possam ter uma participação mais efetiva na área de tecnologia.
Os impactos das startups lideradas por mulheres
Mesmo tendo de enfrentar essas dificuldades, as brasileiras se mostram mais interessadas em começar um negócio do que os brasileiros. Segundo a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), realizada pelo Sebrae e IBQP, 52% dos novos empreendedores — aqueles com menos de três anos e meio de atividade — são mulheres.
Esses dados mostram que as mulheres são tão capazes quanto os homens de criar novos negócios, apesar das maiores dificuldades enfrentadas para fazer os seus empreendimentos prosperarem.
Prova disso é que elas aparecem em menor número nas posições de chefia das empresas. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo IBGE, em 2016, apontam que elas ocupam apenas 37,8% dos cargos gerenciais.
Para reverter essa situação, é preciso que o setor de recursos humanos implemente condições de maior igualdade e valorização da diversidade nos processos de contratação e promoção dos funcionários, atentando também para a sua responsabilidade social.
Cases de sucesso
Arquiteto de bolso
A paulista Marcia Monteiro, arquiteta fundadora da startup Upik, lançou o serviço Arquiteto de Bolso em 2017. A empresa oferece a orientação de um especialista que ajuda o cliente a definir o que ele precisa para a sua construção, seja escolher um piso ou desenvolver um layout em 3D. O serviço tem o atendimento inicial feito por um chatbot e preços abaixo do mercado.
Marcia decidiu abandonar o escritório de arquitetura onde trabalhava, em 2015, para fundar a empresa. Ela inicialmente colocou um trailer na rua para atender quem estava reformando a casa e conseguiu atender 130 pessoas já no primeiro ano. Não satisfeita, ela participou de um programa de aceleração de startups e decidiu abandonar o escritório móvel e migrar para as redes sociais.
Com a nova estratégia, o número de clientes atendidos pela startup subiu para 480. A startup agora oferece orientações sobre como reformar residências, a partir de mensagens instantâneas enviadas pelo Facebook Messenger. Com a ajuda das redes sociais, em poucos meses a Upik conseguiu fechar contratos com grandes empresas de construção, como Leroy Merlin e C&C.
Fagulha Jogos
Criada pelos publicitários Carolina Modaneze e Gabriel Calou, em 2017, a Fagulha Jogos é uma startup de jogos criados para aguçar a curiosidade e proporcionar interações e momentos divertidos. Os sócios decidiram usar toda a experiência na área para criar jogos para mentes curiosas, que despertem o interesse das pessoas em qualquer assunto, desde que seja interessante e bacana.
A missão é provocar experiências lúdicas e retomar o uso de jogos físicos, como jogos de tabuleiro, sem perder o caráter atual. A startup já lançou o Super Brejas, um jogo de comparação de atributos com 50 estilos diferentes de cerveja, e planeja o lançamento de um dominó sobre invenções do mundo e suas criadoras.
Como vimos, startups lideradas por mulheres ocupam cada vez mais um espaço nos negócios antes reservados apenas aos homens e já provaram serem tão ou mais competentes quanto eles. Porém, essa mudança não depende apenas da iniciativa das mulheres, é preciso que toda a sociedade contribua, reduzindo o preconceito e criando incentivos para que as mulheres possam competir no mercado em condições igualitárias.
Quer saber mais sobre o tema? Então confira agora nosso infográfico sobre o protagonimo das mulheres na Transformação Digital!