Os sistemas de reconhecimento facial têm ganhado cada vez mais espaço em todo o mundo. Seja monitorando aeroportos, buscando criminosos, criando campanhas de marketing direcionadas ou simplesmente permitindo que os usuários desbloqueiem seus smartphones, a tecnologia possui diversas utilidades, mas também gera preocupações sobre privacidade e segurança.

Com os avanços do reconhecimento facial, especialistas alertam para a possibilidade da tecnologia interferir nos direitos básicos de privacidade dos cidadãos. Por isso, há pressão crescente sobre governos e empresas para a criação de leis mais rigorosas em relação ao uso da biometria facial.

De acordo com informações do ComputerWeekly.com, os movimentos contra a tecnologia já fizeram a cidade de San Francisco, nos Estados Unidos, proibir a polícia de usar aplicativos de reconhecimento facial. Na Califórnia há a tendência de seguir pelo mesmo caminho. Em pesquisas realizadas, as ferramentas de biometria facial utilizadas pela polícia identificaram a pessoa errada nove vezes em 10 tentativas, o que colabora para as decisões de proibição de uso desses sistemas.

Imprecisões

Apesar da tecnologia de reconhecimento facial estar se tornando cada vez mais popular, esses sistemas ainda estão em fases iniciais de desenvolvimento. Para Michael Drury, sócio da BCL Solicitors, a maioria das pessoas concordaria com o uso da biometria se a tecnologia fosse capaz de impedir ataques terroristas ou outros crimes graves, mas por enquanto não é o que vem acontecendo por conta de sua imprecisão.

Dessa forma, o especialista considera que os benefícios potenciais precisam ser pesados contra o custo da falta de privacidade de cidadãos comuns, que acabam sendo gravados e tendo suas informações armazenadas pela polícia. “A polícia e outras agências de aplicação da lei devem ter cuidado ao ver as novas tecnologias como uma panaceia e merecedoras de uso simplesmente porque a palavra ‘digital’ pode ser usada para descrevê-las”, defende.

Miju Han, diretor de gerenciamento de produtos da HackerOne, tem preocupações semelhantes em relação à confiabilidade desses sistemas. Para ele, a tecnologia de
reconhecimento facial pode ser problemática. “Sua precisão não chega nem perto de 100%, o que significa que empregar a tecnologia resultará em muitos falsos positivos. Poucos algoritmos foram treinados em uma amostra verdadeiramente representativa, de modo que o reconhecimento facial afetará negativamente de maneira desproporcional os diferentes grupos demográficos.”

Falta de privacidade

Quando se pensa na utilização do reconhecimento facial para aplicações em vigilância, os defensores da tecnologia argumentam sua importância no auxílio à segurança. Mas Steven Furnell, membro sênior do IEEE e professor de segurança da informação na Universidade de Plymouth, discorda. “Segurança e privacidade são frequentemente tratadas como sinônimos, mas elas podem facilmente funcionar em contradição”, explica.

Segundo o especialista, o uso do reconhecimento facial, mesmo em contextos de vigilância, coloca em risco a privacidade das pessoas. “Tem sido alegado que a tecnologia de reconhecimento facial é agora socialmente aceita porque as pessoas estão acostumadas a tê-la em seus smartphones. No entanto, a diferença significativa é que isso é feito por sua escolha e para proteger seus próprios bens.”

Ainda sobre o assunto, Furnell argumenta que a tecnologia implantada em espaços públicos funciona de forma diferente, já que as pessoas não consentem o uso de sua imagem. “Os dados estão sendo utilizados ​​para identificação, em vez de autenticação. Como tal, a natureza do uso é significativamente diferente dos usos mais facilmente aceitos em um dispositivo pessoal”, defende.

Reduzindo os riscos

Para manter a tecnologia sob controle, os analistas acreditam que seja necessária a regulamentação de uso dos sistemas. Nesse sentido, seria interessante o estabelecimento de princípios, como limitação de armazenamento e transparência sobre o processamento de dados. Além disso, a criação de leis que obriguem que o reconhecimento facial seja utilizado somente em determinadas circunstâncias e com o consentimento do cidadão pode minimizar os riscos de abuso da tecnologia.

Outra preocupação dos especialistas é sobre o desenvolvimento de softwares de reconhecimento facial. Para eles, é fundamental que as empresas responsáveis incluam representação de diferentes etnias e gêneros e busquem formas de assegurar a confiabilidade dos sistemas, incluindo soluções que garantam a confidencialidade dos dados.

Como pode ser observado, o uso da tecnologia de reconhecimento facial, hoje, é uma faca de dois gumes. Apesar de algumas pessoas afirmarem que esses sistemas desempenham um papel importante no combate ao crime, fica claro que sua aplicação apresenta desafios em relação à privacidade. Para o seu uso ser assertivo, leis e regulamentações deverão ser criadas para impedir o abuso da tecnologia e garantir que os cidadãos estejam protegidos.

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