Segundo o estudo Liga Insights: HRTechs, realizado pela aceleradora corporativa Liga Adventures, há 122 HRTechs (startups voltadas para o segmento de Recursos Humanos) no Brasil, sendo distribuídas em 11 categorias, incluindo recrutamento e seleção; avaliação de desempenho; people analytics (análise de perfil de pessoas); gestão de benefícios; saúde ocupacional e engajamento de colaboradores.

A pesquisa identificou que 56% (67) delas nasceram a partir de 2015 e apenas 11% (13) em 2010 ou antes. Em relação a distribuição geográfica, 67% (80) estão concentradas no estado de São Paulo, seguido de Minas Gerais, com 8% (10), e Santa Catarina e Rio de Janeiro, com 7% (8) cada.

De acordo com Raphael Augusto, startup Hunter da Liga Ventures e responsável pelo estudo, as HRTechs, assim como as demais startups, surgem para resolver problemas atuais em torno do tema central que se propõem, explorar oportunidades de inovação no setor e para criar modelos e mercados, levando os processos atuais para outros níveis de interação e relações.

“No curto/médio prazo, as soluções ajudam os profissionais a terem ganho de produtividade, principalmente em processos mais operacionais – como digitalização de documentos, controle de horas, folha de pagamento etc. Já no médio/longo prazo, começam a trazer possibilidades de tornar a área ainda mais estratégica, reunindo e interpretando informações desde o momento da contratação, até o acompanhamento e alinhamento personalizado de performance, desenvolvimento organizacional, liderança e resultados”, destaca Augusto.

Há três frentes de atuação das HRTechs, segundo ele:

  1. Assumir riscos na criação de novas formas e soluções de uma maneira que as empresas no geral não conseguem. É nesse movimento que surgem as principais disrupções nos mercados.
  2. Reduzir tempo e custo de mudanças. Sabemos que para uma empresa fazer um grande movimento de criação/adoção de novos processos é algo muito complexo. Envolve tempo, dinheiro, priorizações e engajamento. As startups conseguem, por muitas vezes, oferecer algo pronto para aplicação e executar a mudança necessária, ou pelo menos mostrar essa mudança é possível. Muitas dessas soluções são SaaS (Software como Serviço), que não precisam de um movimento de compras e desenvolvimento. É “plug and play”, pagando o que usa e quando usa. Isso se reflete em tempo e dinheiro.
  3. Pioneirismo. Muitas corporações precisam estar atualizadas e serem estrategicamente pioneiras nas inovações de seus processos e negócios. Faz parte do DNA e é o que as tornam atrativas, relevantes e valorizadas. Não podemos esquecer que os colaboradores também são clientes, ou começam como clientes para depois se tornarem colaboradores. As startups conseguem trazer essa “atualização” e pioneirismo, pois muitas dessas soluções são criadas justamente para ‘disruptarem’ os mercados tradicionais.

Encontrando os melhores talentos

Somente a área de recrutamento e seleção, ou Talent Acquisition, concentra vinte players que buscam inovar a forma como empresas e talentos se relacionam e se conectam. Nesse sentido, a MatchBox, spin-off da Seja Trainee, voltada para o desenvolvimento de jovens, ganhou nome próprio em 2017 e, desde então, investe em tecnologia, gamificação e automação para criar soluções para processos seletivos.

Uma das novidades começa na candidatura, em que há a substituição dos tradicionais formulários por um software que simula uma conversa com o jovem (conhecido como chatbot) para coletar suas informações. Na etapa de seleção, em vez de testes psicológicos, apostam em games para avaliar a habilidade para a resolução de problemas.

De acordo com Kleber Piedade, CEO da MatchBox, o processo permite muitas oportunidades. “Temos, de um lado, o jovem que muitas vezes se aplica para uma quantidade gigantesca de vagas e não recebe feedback, não tem experiência. E, do outro, o RH que ainda hoje tem que ler uma quantidade enorme de currículos para avaliar.

Além da carga operacional, acabam usando critérios subjetivos que impedem democratizar os processos e colocar as pessoas certas nos lugares certos. Nem sempre a pessoa certa é aquela com a melhor faculdade, que fez intercâmbio. É poder dar chance a pessoas com diversas histórias concorrendo pela mesma vaga”.

Piedade exemplifica ao citar o Programa de Trainee da Avon, finalizado em 65 dias. Lançado em 15 de janeiro deste ano, os trainees selecionados receberam a notícia no dia 13 de março. A média de duração de programas de trainees é de 90 a 120 dias e essa redução de tempo impacta positivamente nos custos para o RH. “Por muito tempo a Avon não teve programa de trainee, fazia internamente e entendia que estava passando por uma transformação digital dentro de casa e resolveu abrir”, completa.

Para o CEO da MatchBox, a “guerra pelos talentos começa muito antes dele se inscrever para uma vaga”. Por isso, afirma que a particularidade da startup é aplicar os conceitos de marketing no recrutamento. Criada nos Estados Unidos, a técnica usa ferramentas herdadas do marketing digital para se relacionar com potenciais candidatos desde primeiro contato até a hora em que a inscrição para a vaga acontece.

“Do mesmo jeito que o consumidor tem uma jornada desde o conhecimento do produto até se tornar cliente, vemos semelhança com um talento do primeiro contato com uma empresa até ser contratado por ela. Grandes companhias, como Ambev e Boticário, têm nos contatado para criar um funil de talentos.

É mudar o mindset de sempre: ‘vou abrir uma vaga e começo a divulgar’. O grande objetivo é começar a conversar com os jovens muito antes de se aplicarem e criar um pipeline de oportunidades e que venham ocupar essas posições no futuro”, explica Piedade.

Também focada em recrutamento, a startup Reachr, lançada em 2016, desenvolveu um software que utiliza algoritmos para ligar candidatos e vagas – buscando afinidades entre as duas partes. Segundo Vanessa Sam Jorge, cofundadora da empresa, somente em recrutamento e seleção há soluções no mercado para: job board (plataforma online de vagas); inteligência artificial, CRM (sistema de gestão de relacionamento com o cliente); testes; vídeo entrevistas; on boarding (integração de novos colaboradores); checagem de referências e programa de indicações internas.

“Não é de agora que as empresas buscam ganhar eficiências operacionais. Muito já foi feito em áreas financeiras, operacionais, tecnologia, vendas, marketing. Mas até agora o RH não tinha sido foco. A digitalização do RH veio para deixar os processos mais ágeis, transparentes, isentos de ações de uma outra pessoa do departamento e ainda trazendo ganho de escala e redução de custo”, opina Vanessa.

O que vem por aí

Cerca de 33% das empresas já utilizam algum tipo de inteligência artificial (IA) na gestão de pessoas, segundo relatório da Deloitte. Para os especialistas, esta será também uma das tendências dentre as HRTechs. “Ela irá ajudar na realização de atividades operacionais e que podem ajudar livrar o RH para conseguir ter uma atuação mais humana. Tem pessoas que falam que a IA irá substituir os recrutadores, eu não acho que é isso. Ela vem para ajudar a automatizar processos que são repetitivos e permitir que o RH tenha atuação mais estratégica”, destaca Piedade.

Na conversa com mais de vinte profissionais que circulam pelo assunto, o profissional da Liga Ventures observou algumas frentes se tornando realidade para essa área.

People Analytics – para a estruturação, análise e acompanhamento de dados e informações dos colaboradores;

HRMS – sistemas de gestão focados em ajudar o RH em suas operações, trazendo ganhos de produtividade e inteligência para o dia a dia da área;

Soluções de Desenvolvimento e Treinamento – startups que estão trazendo soluções focadas em atender as reais necessidades dos funcionários, tornando-os mais motivados, qualificados e engajados, refletindo em custos e eficiência;

Gestão de Dados – com todas essas frentes usando dos dados estruturados ou não para trazer ganhos às empresas, surge a preocupação com o uso, guarda, segurança e privacidade das informações.

Indústria 4.0

A Indústria 4.0 já chegou, e as empresas que não estão acompanhando a revolução cibernética estão aumentando cada vez mais o gap tecnológico entre elas e suas concorrentes.

“Quando falamos em Revolução Industrial, não é raro pensarmos nas primeiras máquinas à vapor utilizadas nas fábricas da Europa, principalmente na Inglaterra, com inovações que mudaram completamente a forma como produzimos bens de consumo de todos os tipos”, explica a equipe da Digital House.

Na prática, essa primeira revolução industrial foi capaz de transformar desde os nossos espaços urbanos, com uma massiva migração de população do campo para as cidades, passando pelos estilos de trabalho disponíveis, e modificando a forma como pessoas e mercadorias circulavam pelo globo.

Embora a primeira Revolução Industrial tenha impactado enormemente a economia global, outras ondas de inovações continuam transformando o mundo em que vivemos – de forma cada vez mais rápida. Logo depois tivemos o início da Segunda Revolução Industrial, com o advento da energia elétrica e, com ela, o automóvel, o telefone, a televisão, o rádio e o avião. Dá para imaginar o quanto esses novos dispositivos mexeram com a nossa vida, não é mesmo? Mas isso foi apenas o começo!

A Terceira Revolução Industrial chegou com tudo na metade do século XX, dessa vez marcada pela união da ciência e da produção industrial com um só objetivo: eficiência e velocidade. O resultado foi o desenvolvimento da robótica, da eletrônica e da tecnologia da informação. Os computadores chegaram para valer!

Embora todas essas ondas tenham modificado profundamente o modo como nosso mundo funcionava, poucos estavam preparados para a chegada da quarta onda de inovação, a Quarta Revolução Industrial, que daria origem ao que chamamos hoje de Indústria 4.0.

“Chamamos de Indústria 4.0 as transformações geradas na Indústria pelas tecnologias modernas digitais, como a automação, a Internet das Coisas, o Machine Learning, entre outros. Em um mundo cada vez mais digitalizado e conectado, a vida digital já não é mais fruto de um livro de ficção científica, mas realidade palpável dentro de nossos modos de produção.”

Também chamada de Internet Industrial, ou Fábrica Inteligente, ela se consolida com base no tripé internet, tecnologia digital e análise de dados. A ideia é que as fábricas sejam capazes de descentralizar o controle de seus processos produtivos por meio da Inteligência Artificial e da Tecnologia da Informação.

Com uma completa comunicação digital entre todos os sistemas da fábrica, aqui incluindo as máquinas, linhas de produção e pessoas, as fábricas poderão ser capazes de se autoajustar às demandas de produtos que manufaturam e ainda diferenciá-los em customizações cada vez mais crescentes.

Pensando na prática: ao integrar sistemas dotados de inteligência artificial na linha de produção fabril, eles podem, por si só, tomar decisões como economizar recursos, diminuir a produção de toda a fábrica, substituir a produção de uma mercadoria por outra, tudo com base nas métricas analisadas em tempo real pelo sistema.

Dessa forma, os recursos e matérias primas não são desperdiçados, mercadorias não estragam, produtos não ficam parados em estoque… Estoque? Muitas indústrias de primeiro mundo já funcionam sem armazenamento, mantendo a produção apenas voltada para a demanda, ou seja, on demand.

Entre os benefícios dessas inovações, temos em primeira mão a agilidade e o monitoramento dentro da indústria, que permite pesquisa e desenvolvimento de novos produtos ajustados ao mercado em velocidade nunca antes imaginada, trazem benefícios concretos para as linhas de produção. Mais qualidade de produtos, eficiência no uso dos recursos, melhoria na segurança, conservação ambiental, redução de erros, além de viabilidade de novos modelos de negócio e da comercialização de mercadorias.

As plantas das fábricas também estão sofrendo reajustes, estão se tornando mais planas, mais eficientes, mais ecológicas, mais ergonômicas. E os negócios? Mais transparentes, com dados em tempo real da produção e consumo das empresas e excelente capacidade de projeção de resultados, trazendo melhorias nos planos de sustentabilidade, melhor relacionamento com investidores, sociedade civil e ONGs, entre muitos outros benefícios.

As 11 áreas de soluções das HRtechs

Das 122 startups mapeadas pela Liga Ventures, 18% (22) são soluções da LMS, Cursos, Treinamentos e Learning, seguido por Recrutamento e Seleção, com 17% (20) e Ponto, Operações, Folha e GED 13% (15). Ferramentas e soluções para auxiliar no processo de entrevistas e gestão de benefícios são as categorias com o menor número de soluções, com 5% e 4%, respectivamente.

Avaliação e Acompanhamento de Performance

Soluções que oferecem algum tipo de ferramenta ou plataforma para a condução e aplicação de avaliações contínuas, feedbacks, OKRs, autoavaliações, análises de desempenho, performance, progressões, reconhecimentos e bonificações.

Engajamento de Colaboradores

Startups que desenvolvem soluções voltadas para ações de estímulo e monitoramento do engajamento corporativo, clima organizacional, cultura de bem-estar, hábitos, motivação, produtividade, sáude, competências comportamentais e qualidade de vida.

Entrevistas

Plataformas e ferramentas voltadas para a realização de entrevistas no momento da seleção e/ou admissão, e que podem apresentar recursos, tais como: acesso remoto, assessment online, gravações dos conteúdos para que possam ser analisados posteriormente e analytics de entrevista.

Gestão de Benefícios

Startups que apresentam soluções para gestão e utilização de benefícios, criação ou participação em convênios, rede de parceiros, clubes de vantagens, bonificações, incentivos, localização de estabelecimentos parceiros, prêmios, entre outros.

LMS, Cursos, Treinamentos e Learning

Plataformas, ferramentas e/ou aplicativos que permitem às corporações oferecer aos seus colaboradores oportunidades de aprendizado, onboarding, treinamentos, ensino à distância, educação contínua, universidades corporativas e desenvolvimento de competências aplicadas.

Plataforma de vagas

Plataformas nas quais as empresas podem disponibilizar oportunidades de emprego para interessados, de forma genérica ou segmentada, para que os interessados possam aplicar, concentrando um bom fluxo de candidatos e formando um banco de dados.

People Analytics (Análise de pessoas e perfis)

Startups que oferecem algum tipo de solução para captura e análise de ações e perfis de pessoas, auxiliando no acompanhamento e processo de tomada de decisões das empresas, permitindo o mapeamento e análise de perfis, comportamentos e performances dos colaboradores.

Ponto, Operações, Folha e GED

Startups que desenvolvem soluções voltadas para a administração e execução dos processos operacionais e administrativos do RH, gestão de reembolso, férias, salários, faltas, digitalização e gestão de documentos, controle de questões trabalhistas e controle de ponto.

Recrutamento e Seleção

Plataformas ou sistemas voltados para a gestão de aplicações em vagas (ATS), marketplaces de talentos e employer branding, que agilizam e otimizam os processos de atração, identificação e seleção de talentos e atuam diretamente em benefício aos processos de recrutamento e seleção.

Saúde Ocupacional e Bem-Estar

Startups com soluções aplicadas ao auxílio, controle e gestão de questões relacionadas aos processos de saúde no trabalho e medição dos impactos gerados. Também apresentamos soluções que suportam iniciativas de bem-estar, impactando na qualidade de vida e performance dos colaboradores.

Temporários / Freelancers

Startups que apresentam soluções voltadas para disponibilização de vagas, solicitações de trabalhos temporários e concentração de terceiros, voltados para profissionais temporários e freelancers de diferentes áreas, que buscam oportunidades de atuação.

Gostou do artigo? Para continuar aprendendo, confira agora nossa pesquisa “O Futuro do Trabalho” e entenda a visão dos profissionais brasileiros sobre a Transformação Digital no mercado de trabalho!

Georjes J. Bruel

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