Repensar a cultura de agências digitais exige maturidade dos gestores. Não se trata apenas de adaptar-se às novas dinâmicas do mercado ou da necessidade de adotar essa ou aquela tecnologia. É necessário inovar, encontrar caminhos diferenciados para valorizar a sua presença no dia a dia dos clientes.

Essa situação, é claro, não é privilégio dos prestadores de serviços na área de comunicação. Não importa o setor de atuação, tem sido difícil lidar com o impacto da Transformação Digital. Pense numa atividade qualquer e, possivelmente, o modelo empregado até alguns anos atrás não faz mais sentido.

O desafio, para as agências, é que elas também têm um papel importante nas mudanças que precisam ser feitas na cultura das empresas contratantes dos seus serviços, mas não têm como dar conta do trabalho que precisa ser realizado sem reorganizar suas próprias estruturas.

A proposta aqui é apresentar os pontos que precisam ser considerados nesse momento de transformação do mercado. Pela complexidade do assunto, obviamente não há fórmulas prontas, porém podemos entender quais caminhos estão disponíveis analisando os dados do mercado:

O que há de novo no ambiente das agências?

Clientes

Não é apenas o marketing das empresas que tem se tornado digital. Todos os processos têm sido impactados pelo avanço tecnológico. O desafio é que, apesar da importância da tecnologia, essas alterações não dizem respeito apenas a ela e sim à estratégia como um todo.

Qual é o impacto disso para as agências? Elas têm que entender melhor as mudanças que estão ocorrendo no dia a dia dos seus clientes e apoiar as alterações de rumo dos negócios. É por isso que, mais do que nunca, elas estão tendo que atuar como consultoras de negócios. Não dá mais para focar apenas na execução das tarefas.

O fato de os anunciantes terem uma relação mais interativa com o consumidor exige também outra mudança: maior proximidade entre agência e cliente para que ela possa contribuir de forma mais efetiva com esse processo.

Canais

Pensando especificamente no caso da comunicação, essa é uma realidade que as agências não podem ignorar: os canais de comunicação com o público se multiplicaram, exigindo estratégias mais diversificadas.

As marcas precisam ter plataformas próprias, continuar avançando no uso dos canais de terceiros e ainda cuidar com mais atenção de todos os pontos de contato com o cliente. Num mundo em que se valorizam cada vez mais as experiências, como as agências podem ajudar os anunciantes a superar as expectativas do seu público-alvo?

Esse é um desafio enorme para as agências, que precisam colocar em prática a comunicação integrada.

Mercado

O ambiente competitivo das agências não é mais o mesmo. Hoje elas disputam espaço com empresas de outras áreas. Além das consultorias de negócios, entram nessa “concorrência” os próprios veículos de comunicação – quando apresentam um projeto de branded content -, as produtoras e as agências especializadas em ferramentas digitais.

Cultura da diversidade

Quando se analisa o conteúdo da comunicação, a situação é igualmente desafiadora. O sucesso hoje depende de muitas variáveis, uma vez que as marcas têm sido cobradas também pelos propósitos que defendem. Daí a necessidade de a agência ter uma postura mais ativa, estar em sintonia também os grupos “minoritários” da sociedade.

Ambiente de trabalho

No dia a dia de trabalho, a incorporação da tecnologia tem sido uma aliada importante das agências. A automação do marketing é uma realidade e, diferentemente do que se imagina, ela ajuda a valorizar as atividades que estão a cargo das agências.

Vamos abordar melhor isso no próximo tópico, mas por ora é importante pensar na necessidade de as agências aturarem com equipes mais autônomas e menos pautadas pela hierarquia das operações.

Como as agências devem se posicionar frente à Transformação Digital?

Respeitando-se as especificidades do seu trabalho, a realidade das agências frente à Transformação Digital não difere muito daquela enfrentada pelas empresas.

Estamos num ambiente no qual a necessidade de aprendizado é constante e, por isso, as agências precisam estar abertas à inovação e à possibilidade de incorporarem atividades que até então estavam fora do seu escopo de trabalho.

No dia a dia, uma das mudanças mais radicais diz respeito ao ciclo de tomada de decisão. Não se iluda: ele precisa ser mais curto. Para garantir mais eficiência, é importante que se adotem novas metodologias de trabalho, como agile marketing ou mesmo o design thinking.

Pode ser estranho imaginar isso, mas muitas agências têm ignorado a necessidade de alterar aquela cultura de agência baseada em estruturas divididas por áreas, o que dificulta o atendimento das demandas dos clientes.

É preciso ter em mente que a tecnologia é um componente importante da mudança, mas não é o único. Sem alterar a forma como se trabalha, não adianta implantar novos sistemas de registro e controle dos projetos.

Como ter uma agência de sucesso?

O primeiro passo para a mudança é considerar o perfil dos colaboradores e investir em iniciativas que facilitem o entendimento das propostas de valor da agência.

Pense nisso: como a operação vai conseguir se transformar sem o apoio da equipe? E como obter sucesso se as propostas não são condizentes com a percepção que os profissionais têm sobre o negócio?

Por mais importante que seja a figura do líder da agência, o sucesso da estratégia depende dos colaboradores. Eles devem reconhecer e se identificar com as orientações. É a velha história: nos dedicamos mais quando acreditamos no que estamos fazendo.

Outro erro que não se pode cometer é considerar a cultura organizacional como algo estanque. Lembre-se de que ela está sempre em transformação. No caso das agências, é imprescindível que a sua cultura se mantenha em sintonia com o processo de mudança da sociedade.

No dia a dia, tenha em mente os focos de atuação que devem ser valorizados.

Consultoria especializada

Ao alinhar o conhecimento técnico da atividade de comunicação com as informações obtidas sobre o negócio do cliente, a agência consegue ter uma visão mais abrangente do processo, o que vai resultar em projetos realmente mais estratégicos. Ou seja, a presença digital dos clientes precisa ser baseada na obtenção de resultados efetivos para o negócio, e não no atendimento de demandas pontuais.

Análises mais assertivas

Mensurações mais eficientes são projetos que podem ser mais bem aproveitados pelas agências. Faz parte do seu trabalho, por exemplo, estabelecer de antemão os indicadores que serão acompanhados e apresentar os respectivos relatórios.

Ao contratar um serviço, o cliente pode — e deve — exigir da sua parceira na área de comunicação o acompanhamento do ROI (Return on Investiment).

Excelência na execução

Faz parte do core business obter excelência nessa área e, nesse sentido, a tecnologia tem ajudado muito, não apenas na otimização, como também na sistematização do trabalho.

A automação do marketing adquire cada vez mais relevância nesse contexto, principalmente pelos ganhos proporcionados em termos de produtividade. Quanto mais organização, melhor para agilizar o fluxo de trabalho.

Deixar de considerar a importância da tecnologia na otimização dos processos de trabalho pode gerar perdas graves em termos de vantagem competitiva. Os recursos hoje são escassos e quem quer ser bem-sucedido deve aproveitar melhor todas as possibilidades.

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José Quintella

CEO da iClips, com MBA em Gestão do Conhecimento pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e bacharelado em Administração pela Universidade Federal de Juiz de fora.

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