Há vinte anos, um executivo japonês chamado Tsugio Makimoto previu uma revolução. Em seu livro “Digital Nomad“, lançado no ano de 1997 em parceria com David Manners e praticamente ignorado pelo público e pela crítica, Makimoto escreveu num trecho quase premonitório que “redes sem fio de alta velocidade e dispositivos móveis de baixo custo quebrarão o vínculo entre ocupação e localização“.

Dez anos depois, em 2007, a ideia de nomadismo digital ressurge no best-seller Trabalhe 4 Horas por Semana“, do autor Tim Ferriss. Numa mistura de lifehacks e ideias de novos modelos de negócios, Ferriss pintou uma imagem glamurosa — a começar pelo título — de renda automatizada e do velho sonho de se viajar o mundo enquanto se ganha dinheiro.

Nem Makimoto, nem Ferriss, contudo, previram que o impacto da Transformação Digital em nossas vidas, pessoais e profissionais, seria tão grande e evoluiria tão rapidamente.

Smartphones, aplicativos, redes sociais, economia compartilhada e serviços sob demanda simplificaram de tal maneira o modo como vivemos e trabalhamos que, em 2017, as fronteiras geográficas já não são mais um problema e o nomadismo digital já é uma realidade para milhares de jovens ao redor do mundo — e o sonho de consumo de tantos outros milhões.

Os autores também não poderiam prever que todo um ecossistema seria criado por e para nômades digitais. Espaços de coworking e cafés voltados para profissionais que trabalham de forma remota estão cada vez mais em alta ao redor do mundo.

O sudeste asiático, impulsionado pela bela e exótica Tailândia, tornou-se um centro mundial de nômades digitais. Basicamente, jovens adultos de todo o mundo transformaram cidades paradisíacas e até então desconhecidas, como Chang Mai, em suas estações de trabalho.

E este não é um estilo de vida limitado para poucos sortudos. Essa Transformação Digital que rompeu totalmente as fronteiras geográficas, além de oferecer a possibilidade de que algumas funções sejam desempenhadas hoje de forma remota, ainda criou empregos que não existiam 10 anos atrás — e deve criar muito mais nos próximos anos: um estudo recente da Dell projetou que, até 2030, aproximadamente 85% das profissões serão novas, ou seja, ainda nem foram inventadas.

Mas, o que é preciso para se tornar um nômade digital?

Bom, além da obrigatoriedade de acesso à internet e da materialização da teoria de Makimoto, para vivenciar o nomadismo digital como carreira você precisa de algumas outras coisas.

Passaporte

Essa parte é um pouco óbvia, mas é sempre bom lembrar.

Solicitar um passaporte é fácil. Você pode fazer isso no site da Polícia Federal. O problema está nos vistos de entrada para alguns países. O Brasil possui acordos bilaterais com quase todos os territórios reconhecidos pela ONU e é possível que um brasileiro entre sem a necessidade de visto em 153 países, porém, alguns destinos famosos como Estados Unidos e Japão não constam na lista. Para conseguir o visto de entrada para estes países, você deve procurar suas respectivas embaixadas no Brasil.

Uma vantagem dos nômades digitais é que, como esses profissionais levam seu trabalho na mochila — só precisam de um notebook e internet —, não é necessário visto de trabalho. Você só deve ficar atento ao período de validade do visto de turista (varia de 3 à 6 meses, dependendo do país).

Dinheiro

Ok, este item é ainda mais óbvio, mas o que talvez você não saiba é que não é necessário muito dinheiro para ser um nômade digital.

Explico com um hack prático.

Primeiro: esqueça agências de viagem.

Dito isso e partindo do princípio de que você já trabalha de forma remota e não há a necessidade de tirar férias para poder viajar, te aconselho a fazer o download de algum aplicativo que monitore promoções de passagem aéreas — ó a Transformação Digital aí novamente.

Eu utilizo o app do Melhores Destinos. Este ano já comprei passagens para México (R$ 600,00), Coreia do Sul (R$ 1.500,00) e Argentina (R$ 1.200,00) — todos os preços de ida e volta, saindo de Florianópolis (SC) — graças as notificações do aplicativo.

As hospedagens também podem ser reservadas pelo celular. O Airbnb é o aplicativo mais famoso com essa finalidade.

Os países do sudeste asiático são os favoritos dos nômades digitais não apenas por causa de suas belezas naturais: o custo de vida é baixíssimo. Então dê valor ao seu dinheiro! Escolha um destino onde a conversão da moeda valha a pena e seja feliz vivendo o sonho do nomadismo digital!

Conhecimento

Habilidades linguísticas são fundamentais para quem quer seguir esse estilo de vida. E não basta falar bem: é necessário ler e escrever bem. De preferência em mais de um idioma — incluindo o seu nativo, ok?

Além disso, você precisará de algumas habilidades digitais — independente de você ser um nômade que faz freelas ou trabalhe de forma remota para alguma empresa, acostume-se com nomes como WordPress, MailChimp, Slack ou Trello.

Tempo

Tim Ferriss é um ponto fora da curva. Não pense que você ficará milionário da noite pro dia trabalhando de forma remota. A verdade é que a grande maioria das pessoas que vive nesse estilo de vida não procura a felicidade no dinheiro: a ideia é encontrar um equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Não precisar esperar a aposentadoria para curtir a vida, saca?

O ponto é que, mesmo assim, pelo menos no começo, você não encontrará esse equilíbrio. Pelo contrário, você terá que trabalhar duro para pagar as contas das suas viagens e do seu negócio — caso tenha um.

Nem todos podem se dar ao luxo de investir várias e várias horas de trabalho na construção de um estilo de vida — especialmente se você tiver filhos. Por isso, tão fundamental quanto o dinheiro, o tempo é um ativo importantíssimo para os nômades digitais.

***

Concluindo

Não se trata de férias eternas. Não se trata de largar tudo e viajar por aí. Se trata de aproveitar as “redes sem fio de alta velocidade e os dispositivos móveis de baixo custo” para desempenhar o seu trabalho remotamente.

A verdadeira liberdade, sonho de consumo dos nômade digitais ao redor do mundo, reside na possibilidade de viajar sem limites, horários ou datas pré-determinadas, ao mesmo tempo em que se é capaz de viver e trabalhar em qualquer lugar do mundo. Para a maioria, esse é o objetivo final — o pináculo da vida.

E a Transformação Digital proporcionou isso.

Matheus de Souza

Empreendedor digital | be freela Nômade digital que escreve e empreende. Considerado pelo LinkedIn como o terceiro brasileiro mais influente da rede em 2016. Trabalha de forma remota ao redor do mundo contando histórias e produzindo conteúdos.

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