Quando muitas empresas ausentes do ecommerce, por exemplo, foram forçadas a iniciar operações por este canal em função da pandemia, este movimento, assim como outros semelhantes a ele,  foi  entendido como a prova cabal de que a crise sanitária  acelerou a transformação digital. Embora pareça uma constatação óbvia, uma reflexão mais profunda sobre o verdadeiro significado do termo transformação digital parece não corroborar este entendimento.

Só para exemplificar, de acordo a edição especial do CESAR Reports 2020 com os resultados do ICTd – Índice CESAR de Transformação Digital, pesquisa realizada com mais de 400 empresas e mais de 800 executivos, apenas cerca de 42% deles consideram que suas empresas estão perto ou muito perto da maturidade digital.

A discussão parece ser apenas subjetiva e voltada à questão conceitual, mas ela se mostra em toda a sua relevância quando chega na ponta do lápis dos departamentos financeiros. Afinal, enquanto um relatório do IDC, afirma que os investimentos em transformação digital continuarão crescendo a uma taxa (CAGR) de 15.5% de 2020 a 2023, devendo atingir cerca de 6,8 trilhões de dólares, um artigo assinado pelos especialistas Behnam Tabrizi, Ed Lam, Kirk Girard e Vernon Irvin levanta a suspeita de que 70% de todas as iniciativas de transformação digital não atingem seus objetivos.

Em outras palavras, aquilo que alguns estão chamando de Transformação Digital pode, na verdade, ser apenas reforço em traços de uma cultura já existente cuja intenção é a de apenas aumentar a eficiência da operação atual.

De uma forma geral, nenhuma estratégia ou transformação ocorre sem que haja o envolvimento de todos. Na prática, ela só acontece se os colaboradores e demais interessados compartilharem da mesma visão, estiverem engajados quanto à necessidade e à urgência do processo e, com isso, eles mesmos se transformarem.

Para produzir Transformação Digital genuína é preciso desenvolver, antes de tudo, um processo de mudança cultural bem implantado. Isso criará um ciclo virtuoso que se auto reforçará e promoverá a mudança de comportamentos alinhados com a estratégia.  

Ocorre que o desafio de alinhar a cultura e motivar pessoas tem se revelado um dos mais difíceis a se enfrentar durante um processo de transformação digital.

Neste sentido, um conjunto de seis ações podem servir como um guia para evitar frustrações e desperdícios. São elas :

  1. Desenvolva um senso de urgência para a mudança, mas não de risco;
  2. Identifique os traços de cultura que precisam entrar e os que precisam sair para que a nova estratégia tenha sucesso (pense nos soft skills, para além dos hard skills);
  3. Acrescente ao processo de recrutamento a verificação desses traços;
  4. Elabore dinâmicas de mudança cultural e trabalhe com todo o time (existem bons profissionais para isso), para que em conversa franca (nunca fáceis) acrescente alguns traços desejados, e procure atenuar pontos que devem ser apagados;
  5. Identifique e remova as barreiras estruturais, para que a nova cultura possa florescer (quem você promove, o que você premia? se apenas a eficiência, não adianta pedir para o povo ser criativo);
  6. Reserve uma parte do investimento para ações não pensadas (nos projetos, são os conhecidos known unknowns). Não existem planos que não necessitem correções e não existem transformações sem planos.

Se a transformação digital da sua organização ainda não ganhou a velocidade e relevância desejadas, esse é o momento de fazer os ajustes de rota e acelerar. Vamos juntos? 

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