Afinal de contas, o que define a produtividade de um time? Essa simples questão ainda é tema de muitos debates por empresas de todos os tipos e tamanhos pelo mundo afora. Isso se dá pelo fato de que a produtividade de uma equipe pode — e na maior parte das vezes é — responsável pelo sucesso ou fracasso de uma estratégia de gestão.
Mas apesar da grande discussão acerca do assunto, existe um ponto específico que é unânime para empresas e gestores: colaborador desmotivado, que não veste a camisa do negócio, não rende.
A verdade é que qualquer técnica ou estratégia para motivar um colaborador inicia-se, de uma forma ou de outra, no propósito da empresa. Negócios, acima de tudo são feitos de pessoas, e pessoas precisam se conectar a algo maior do que elas próprias para se motivarem. E encontramos essa conexão no propósito.
A velha ideia de que uma empresa guiada por um propósito social, com objetivos de identificar seu papel no meio que atuam não traz retorno está cada dia mais defasada. De fato, o que acontece é o oposto.
Uma pesquisa recente publicada na revista Harvard Business Review mostrou o que muitos empresários já sabiam: empresas que não possuem foco em lucro são as que mais estão lucrando (parece bizarro mas você vai entender mais a frente).
O levantamento veio a partir de uma análise de empresas de médio e grande porte entre os anos de 1926 e 1994 e demonstrou que negócios com um propósito maior que simplesmente ganhar dinheiro tiveram seis vezes mais retornos para seus shareholders do que aquelas focadas exclusivamente no lucro.
Um exemplo prático dos resultados dessa ação vem da gigante do automobilismo, a Ford. Henry Ford inovou não só no desenvolvimento da linha de produção, mas na forma que guiava a própria companhia. Em 1914, o empresário deu os primeiros passos para mudar o mercado que atuava através de um propósito.
Ele implantou um sistema único na época, criando um pagamento mínimo de US$ 5 por dia — o dobro comparando com a média do mercado —, além de uma redução na carga de 60 horas de trabalho padronizadas nos Estados Unidos e um sistema inovador de divisão de lucros entre empresa e funcionário.
O resultado dessa mudança drástica (para a época) foi o que, hoje, sabemos que aconteceria se uma empresa adotasse os mesmos passos. Uma disputa enorme por vagas dentro das empresa, colaboradores mais felizes com suas posições e um aumento absurdo na produtividade.
Essas ações criaram a fundação para que outros empresários visionários deixassem de trabalhar exclusivamente na obtenção de lucros e desenvolvessem um propósito focado no bem estar de seus colaboradores.
O propósito e o cliente
Se alguém, nesse exato momento, entrasse na sua sala e perguntasse a você: “o que o seu cliente compra?”, qual seria a sua resposta? Se você disse que ele compra o seu produto ou serviço, sinto-lhe dizer, mas você está errado.
Todos os negócios, sejam eles B2B ou B2C, do ponto de vista do consumidor, deixaram de ser movidos simplesmente pela compra de algo. Novas gerações de consumidores não buscam apenas um produto, mas a experiência inserida nele.
E essa mesma experiência pode ser guiada através do propósito de uma empresa. Imagine um CEO de uma fábrica de roupas, onde o negócio tem como propósito melhorar a experiência de consumo através de um cuidado com o meio ambiente para trazer mais bem estar às gerações futuras.
Esse propósito muda a forma que o consumidor vê o produto. Ele não vai mais até as lojas para comprar uma camisa, mas sim em busca da experiência e da sensação positiva no ato de estender seu cuidado até as roupas que usa.
Obviamente, este fator não precisa se prender ao senso comum sobre o que é fazer o bem pro mundo. Essa mesma fábrica poderia, por exemplo, ter um propósito de deixar o mundo um pouco mais bonito através das suas coleções. A decisão sobre o peso do propósito fica por conta do decisor.
Neste aspecto é importantíssimo não se deixar levar pelo “falo-mas-não-faço”. Enquanto a maior parte dos líderes e gestores concorda e compreende a importância do propósito para um negócio, poucos caminham com suas empresas no sentido deles.
Isso se dá comumente pelo fato delas manterem seus propósitos “trancados”. O propósito deve possuir uma implementação top-down para impactar e inspirar lideranças, motivar colaboradores e refletir no consumidor. Uma atitude “falo-mas-não-faço”, a longo prazo pode ser extremamente negativa para uma empresa, especialmente se aliado ao crescimento e popularização da marca.
Um exemplo prático da diferença que o propósito e a atuação em busca dele pode trazer para uma organização pode vir do poder público.
Em 2015, no Reino Unido, a polícia local decidiu mudar a forma de agir e criou seu próprio propósito: ajudar os moradores das comunidades em que atuam em prol do bem estar e liberdade.
Essa conclusão veio a partir de um levantamento básico: pessoas que vivem bem e com incentivos positivos são mais ativas e responsáveis em suas comunidades, o que reduz os custos para o serviço público.
Para caminhar no sentido deste propósito, os gestores desenvolveram novas metas, métricas e formas de abordagem às comunidades. Os recursos foram realocados para assistência das famílias nas áreas de maior risco através de um leque maior de serviços entregues.
Essa ação, por sua vez, gerou uma mudança no workflow da polícia, que passou a visitar essas famílias de forma proativa, em vez da comum atuação reativa, para contextualizar melhor as dificuldades e desafios dos moradores.
O resultado? Uma melhoria significativa na qualidade de vida dentro das comunidades em que atuavam, redução de índices de violência e das chamadas policiais. Este é apenas um exemplo do resultado que a soma da ação e propósito podem gerar.
Mas o que acontece com empresas que se mantém abertamente focadas exclusivamente no lucro? A resposta é bem simples. A falta de propósito claro é preenchida por métricas e busca por resultados numéricos. Essas métricas escurecem qualquer ideia maior de propósito com o objetivo único de atingir os números desejados.
Essa atitude é muito perigosa e pode resultar em um grande desastre para um negócio, pois mensurar o resultado de uma empresa apenas pelo seu sucesso nos números costuma separar a empresa do propósito do consumidor. Isso pode fazer com que sua empresa acabe “tentando vender uma garrafa de água para quem possui um poço no quintal de casa”. É cansativo e dispendioso.
De certa forma, o propósito funciona como a ligação direta entre a empresa e seu consumidor. Ela reflete as necessidades, desejos e vontades do comprador, por isso ela é necessária, mesmo que, muitas vezes, seu sucesso seja imensurável.
Missão e visão versus Propósito
Bem, analisando tudo isso, podemos chegar a conclusão de que ter um propósito e uma missão partem do mesmo pressuposto, logo, são a mesma coisa não? Não. Propósito é muito diferente da visão e missão de uma empresa.
A missão do seu negócio deve identificar o que sua empresa quer fazer agora. Ela define, por exemplo, quem são seus consumidores e os processos críticos para o sucesso do negócio. Já a visão tem caráter futuro. Ela diz aquilo que seu negócio almeja ser. Ela deve ser uma fonte de inspiração.
O propósito eleva esse pensamento para fora da empresa. Ele deve dizer como as suas ações afetam e provocam mudanças na sociedade. Em suma, o propósito é a razão para uma empresa existir. Ele trata mais sobre o caminho trilhado do que o objetivo final.
Independente do propósito que a sua empresa possua, lembre-se sempre que o caminho traçado nunca é fácil, e atrair o desejo de quem consome seu produto ou serviço em um oceano de concorrentes é um desafio constante e necessário para o crescimento.
Então, qual é o seu propósito? Entenda o que é Transformação Digital e descubra.