A pandemia de COVID-19 está causando profundas mudanças no planeta em que vivemos — incluindo uma transformação digital “na marra”. Parte disso envolve a adoção do home office como medida emergencial ao deixar as pessoas trabalhando de casa para impedir que a doença se dissemine ainda mais, e mais rapidamente.

Mas, como eu disse no meu último artigo: a pandemia será temporária, só que a transformação não! As revoluções que estamos vivenciando e testemunhando desde já deixam sementes plantadas, e os frutos serão colhidos muito em breve. Afinal, não vamos “voltar ao normal” quando a crise passar, pois estamos participando da criação de um novo “normal”. 

E temos exemplos ao redor do mundo que comprovam como a tecnologia, se usada com sabedoria e visão de futuro, não somente ajuda a frear uma pandemia como a do coronavírus, como também a criar uma sociedade cada vez mais evoluída.

Estônia: acostumada com o digital, população sentiu menos impacto com a pandemia

Apesar de estar próxima da França quanto ao número de casos de COVID-19 per capita, a situação na Estônia é muito mais tranquila, por assim dizer. Mas não é como se os estonianos não estivessem preocupados com a pandemia: é que o pequeno país do Mar Báltico já era mestre na digitalização muito antes do surgimento do novo coronavírus. Então, a população experimentou menos pânico, sabendo que muitos processos e atividades continuariam acontecendo normalmente durante o período de isolamento, sem a necessidade de “correr atrás do prejuízo” para manter as engrenagens girando.

Um artigo do The New Yorker destaca que a economia do país está intimamente ligada à tecnologia: seu governo é digital e a maioria dos serviços por lá podem ser oferecidos virtualmente. Uma espécie de ID digital permite que a população faça coisas como votar e receber prescrições médicas pela internet, e suas informações pessoais são armazenadas com os devidos cuidados de segurança e privacidade.

Até mesmo quem está pensando em se mudar para lá pode fazer o processo de estabelecer residência e pagar impostos digitalmente, e só tem três serviços públicos que exigem a presença física de uma pessoa no país — casamentos, transferências de propriedade e divórcios. Registros de nascimento também faziam parte dessa lista, mas, agora, com a pandemia do coronavírus, esse registro presencial foi suspenso, permanecendo apenas no ambiente on-line.

Contudo, para que os serviços públicos oferecidos apenas pela internet sejam realmente democráticos, é preciso, primeiro, garantir o acesso a uma internet estável e de boa velocidade. Na Estônia, 99% das famílias possuem conexão de banda larga, e o país também é famoso por ter um sistema educacional exemplar no desenvolvimento e uso de tecnologias eletrônicas.

Ou seja: os estonianos já estão tão acostumados a estudar, trabalhar, consumir e, enfim, viver contando com soluções digitais, que não estão sofrendo como o restante da população mundial nesse processo transitório. Aquele discurso de “o país não pode parar” acaba sendo realmente viável só num cenário como este.

Coreia do Sul: o papel vital da tecnologia contra o coronavírus

Além do case de sucesso da Estônia quando falamos da tecnologia fazendo a roda girar em tempos de coronavírus, temos outros exemplos ao redor do mundo em que a tecnologia tem papel vital — literalmente — no combate à pandemia.

Começando pela Coreia do Sul, onde o vírus avança mais lentamente do que em várias outras regiões do mundo. O motivo? É que o país asiático emprega recursos tecnológicos criativos para desenvolver métodos de prevenção e contenção da disseminação da doença. 

Um exemplo do que estou falando é o uso de um aplicativo para liberar a entrada de viajantes, especialmente aqueles que vieram de zonas consideradas “de alto risco”, como é o caso da China, por exemplo. O El País recentemente contou a história de um chinês que chegava à Coreia do Sul e que só teve a entrada liberada após instalar o app, escanear o QR Code e se registrar. Após o registro (e a liberação para visitar o país estrangeiro), o rapaz foi monitorado por meio do app por algumas semanas, tendo que responder diariamente a uma série de perguntas sobre seu estado de saúde. Com isso, as autoridades sul-coreanas garantiram que ele não desenvolveu nenhum sintoma da COVID-19 após sua entrada no país.

Tal app já se mostrou tão útil que o Governo local decidiu usá-lo para gerenciar a quarentena de mais de 30 mil pessoas em todo o país, periodicamente acompanhando o estado de saúde da população à distância, sem precisar mobilizar profissionais de saúde para isso — e ainda por cima a localização por GPS garante que os moradores respeitem o isolamento imposto.

Outro exemplo de como a tecnologia tem potencial benéfico no combate ao coronavírus também vem da Coreia do Sul, onde exames podem ser realizados sem que os indivíduos saiam de seus carros. Em apenas um dia, é possível fazer quase 20 mil exames, e basta que as pessoas dirijam-se a esses centros — no melhor estilo drive thru — para receber o atendimento sem contato com o mundo exterior, sendo que o procedimento todo dura cerca de 15 minutos, apenas. Cada um desses centros atende quase 100 pessoas por dia, entregando os resultados em até 48 horas, e pelo menos 50 deles já existem por lá.

Taiwan e Singapura: exemplos para o restante do mundo

Taiwan é outro lugar com índices de sucesso no combate à pandemia graças à tecnologia — e, neste caso, à expertise com epidemias anteriores. O veículo alemão DW lembra que o país asiático aprendeu com crises do passado para agir proativa e rapidamente na crise do momento e, assim, os resultados positivos são destaque.

O país enfrentou a SARS em 2004, criando mecanismos de defesa como uma lista contendo mais de 120 ações emergenciais que deveriam ser tomadas em uma situação parecida — como a do atual coronavírus. Essa lista envolve coisas como controles de fronteira, políticas sociais, planos de comunicação pública e avaliações de recursos hospitalares. Então, quando os primeiros casos de COVID-19 surgiram em Wuhan, na China, no final de 2019, Taiwan já ficou em alerta antes mesmo de seus vizinhos descobrirem a causa daquela “pneumonia desconhecida”. As ações listadas desde a época da SARS permitiram a tomada de providências emergenciais e preventivas — e tudo isso contando com a tecnologia para acelerar o processo, incluindo monitoramento on-line de pessoas possivelmente contaminadas, por meio de seus dispositivos móveis devidamente rastreados.

Singapura também dá uma aula para o restante do mundo nesse sentido. Segundo reportagem do CNET, o país pratica o que foi chamado de rastreamento de contatos. Quando um caso de COVID-19 é confirmado, em apenas duas horas essas pessoas geram um relatório completo de atividades, mostrando todos os seus movimentos e interações das últimas duas semanas. As autoridades, então, conseguem identificar outras pessoas que correram risco de contaminação, colocando-as em isolamento preventivo para impedir ainda mais disseminação. Esses relatórios são feitos por meio de contato telefônico e também pelo uso de imagens de vigilância, incluindo gravações de locais privados, como empresas, que prontamente as fornecem para o poder público neste caso. 

Além disso, o país criou um app chamado TraceTogether, pelo qual os cidadãos podem ficar sabendo caso tenham chegado a menos de dois metros de distância de um infectado. Isso é possível graças à ativação do Bluetooth no aplicativo, já que esses sinais têm esse alcance médio. Desde, claro, que todos tenham o app instalado — o que é incentivado pelo governo da nação.

Contra números, não há argumentos

No momento em que escrevia este artigo, a Estônia tinha quase 380 casos de COVID-19 confirmados, com apenas 3 mortes registradas. Na Coreia do Sul, os números mostravam mais de 9 mil casos confirmados da doença, com 120 mortes. Em Taiwan, o status era de 298 infectados confirmados e apenas 3 mortes. Já em Singapura, o total de infectados estava de 879, mas somente 3 pessoas morreram por conta da doença.

Enquanto isso, o Brasil registra 5.717 casos confirmados do novo coronavírus, com 201 mortes, de acordo com o último boletim do Ministério da Saúde — atualizado diariamente, por sinal.

Igor Lopes

Diretor de Conteúdo no TD Jornalista que cobre o mercado de negócios em tecnologia há quase 15 anos e já viajou o mundo cobrindo os principais eventos de inovação como CES, Mobile World Congress, Oracle Open World e vários outros. Passou pelos principais veículos especializados em tecnologia do Brasil: na NZN, foi diretor de conteúdo das sete propriedades do grupo (Tecmundo, The BRIEF, entre outros), e no Canaltech foi editor-chefe e cofundador do site. Desde 2018 mostra o know-how adquirido ao longo da carreira em sua coluna de tecnologia no BandNewsTV e como diretor de conteúdo do ecossistema de inovação, TransformaçãoDigital.com.

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