Mesmo em 2020, ser mulher continua representando um grande desafio. Embora a sociedade esteja demonstrando avanços – graças à luta por direitos iguais -, ainda estamos longe de alcançar a equidade de gênero.

Como não poderia ser diferente, um dos aspectos mais impactados pelas construções sociais é a presença da mulher no mercado de trabalho. No entanto, um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que, até 2030, a participação feminina deve crescer mais que a masculina no Brasil. 

Segundo as informações, o maior investimento em educação e as mudanças culturais estão contribuindo para que as mulheres se tornem mais qualificadas que os homens, o que deve impulsionar a sua presença nas empresas. Hoje, porém, a realidade é diferente: as mulheres compõem a maioria dos trabalhos informais, ganhando menores salários e correndo maior risco de perderem seus empregos para a automação.

Uma pesquisa realizada pela McKinsey mostra que, até 2030, entre 40 milhões e 160 milhões de mulheres precisarão mudar de carreira por conta das automações do setor produtivo. De acordo com o relatório, muitas das ocupações tipicamente ocupadas por mão de obra feminina, como secretariado e atendimento ao cliente, serão automatizadas, o que exigirá requalificação de mulheres em todo o mundo para que se mantenham relevantes no mercado. 

De fato, as profissões do futuro envolvem formação em ciências, tecnologia, engenharia e matemática, onde ainda há pouca participação feminina. Atualmente, apenas 35% dos estudantes matriculados em cursos dessas áreas são mulheres. 

Mudanças de mentalidade necessárias

Hoje, as mulheres estão conquistando posições de liderança, mas ainda é necessário superar a reprodução de estereótipos. Para Sabrina Sciama, Diretora de Comunicação Corporativa da Visa do Brasil, o viés inconsciente é um dos maiores desafios no mercado de trabalho. 

“Um Estudo da Harvard mostrou que investidores de venture capitals americanos percebem empreendedores como ‘jovens promissores’, enquanto que as jovens mulheres são percebidas como ‘jovens, mas inexperientes’, ou ainda quem os homens são ‘agressivos, mas ótimos empreendedores’, e mulheres são ‘entusiásticas, mas fracas’”, comenta Sciama. “Não foi à toa que o mesmo estudo mostrou que os investimentos das venture capitals foram direcionados principalmente para empresas lideradas por homens. Esses e outros estereótipos definitivamente também devem impactar as mulheres no ambiente corporativo das mais diversas indústrias.”

Sabrina Sciama, Diretora de Comunicação Corporativa da Visa do Brasil

Para se ter dimensão das dificuldades no mercado, cinquenta e nove por cento dos brasileiros não se sentem muito confortáveis em ter mulheres como CEO, conforme apontado em relatório da consultoria Kantar. O levantamento mostra que o Brasil obteve 66 pontos, ficando sete pontos abaixo da média dos países do G7 e atrás da Índia. 

Recentemente a Mercer também compartilhou o seu relatório global “When Women Thrive 2020”, constatando que 40% da força de trabalho é composta por mulheres. Apesar disso, 47% das trabalhadoras ocupam posições de suporte, e a minoria atua em posições de liderança: 29% em cargos sênior  e 23% executivas.

A transformação digital enquanto possibilidade de protagonismo

Mesmo com todos os desafios, a transformação digital está possibilitando o protagonismo feminino. A presença das mulheres em cargos de liderança ainda é baixa, mas elas já estão assumindo grandes responsabilidades em empresas inovadoras e gerando resultados importantes.

“A equidade de gênero é uma batalha importante para homens e mulheres, e não exclusivamente para as mulheres. Quando ambos os gêneros se comprometem com a equidade, não só a empresa é beneficiada, mas como também economias e a sociedade”, observa Sciama. “Não é à toa que alguns dos países que estão topo do ranking do Fórum Econômico Mundial de Igualdade de Gênero de 2019 também são aqueles com o melhor PIB, como Noruega, Finlândia e Suécia.”

Diversos estudos comprovam que a diversidade de gênero no ambiente de trabalho contribui para o crescimento das empresas. Especialistas defendem, inclusive, que as organizações que investem em lideranças femininas têm maiores chances de superar os concorrentes. As empresas premiadas pelo GPTW Mulher no ano passado apresentaram, em média, crescimento de faturamento de 12,2%, número seis vezes maior que o geral.

Para além das discussões nos departamentos de Recursos Humanos, a liderança feminina já é assunto fundamental nas diretorias empresariais. Segundo os analistas, as mulheres estão desenvolvendo competências importantes, como avaliação de riscos e tomadas de decisão – essenciais na economia e indústria 4.0. Além disso, lideranças de diferentes gêneros contribuem para ambientes mais inovadores e com olhar mais apurado para os negócios. 

Não é novidade que a transformação digital não trata de tecnologia, mas de pessoas. Os projetos de digitalização têm como foco maior inteligência, otimização de operações, flexibilidade e inovação. Não é possível desenvolver uma cultura com esses objetivos com pessoas iguais: mesma formação, origem, etnia, gênero, idade. Nesse sentido, a diversidade deve ser prioridade para organizações que pretendem sobreviver na Era Digital.

“Recentemente montamos um comitê de diversidade & inclusão dentro da Visa do Brasil, formado não apenas pela frente de equidade de gênero, mas como também racial e de orientação sexual. Para começar a direcionar nossos esforços, o grupo fez uma série de benchmarks empresas de diferentes indústrias”, relata a Diretora de Comunicação Corporativa da Visa do Brasil. “Fiquei um tanto quanto motivada em ver como muitas empresas e seus funcionários estão arregaçando as mangas para acelerar as mudanças que queremos ver em nossa sociedade.”

Os avanços já podem ser observados, mas para a executiva o caminho ainda é árduo. “Segundo um estudo do Instituto Ethos, 14% do quadro executivo das 500 maiores empresas do Brasil é composto por mulheres e apenas 0.4% são mulheres negras”, comenta Sciama. “Outro dado alarmante é o do IBGE, que mostra que as mulheres ganham, em média, 20.5% menos que os homens no país, enquanto as mulheres negras recebem menos da metade do salário dos homens brancos no Brasil. Ou seja, há muita coisa a fazer por mulheres e homens.”

A equidade de gênero, o que inclui a quebra de preconceitos em todos os níveis, deve ser pauta nas estratégias corporativas, e para isso a liderança deve se comprometer verdadeiramente com a diversidade – uma dificuldade que deve ser superada de forma urgente.

“Em minha opinião, a transformação digital e a equidade de gênero estão interligadas. A pluralidade de opiniões e perspectivas é que poderá determinar e impulsionar a transformação de uma empresa, seja ela em uma startup apenas começando ou em uma big tech com milhares de funcionários”, conclui Sciama.

 

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