Deixando de lado o pânico generalizado, a pandemia do novo coronavírus promove a necessidade de se abraçar a transformação digital (nem que seja “à força”), como falei no meu último artigo. Mas agora vou focar na questão do isolamento que está sendo necessariamente imposto em diversos países — incluindo o Brasil —, já que todo mundo que pode trabalhar em casa não somente pode, como deve, nesse momento de crise.
Mas, espera aí. O que o home office tem a ver com a transformação digital mesmo? Tudo! Pensa comigo: se as pessoas precisam trabalhar em casa, elas precisam ter as ferramentas para isso, certo? E essas ferramentas precisam ser digitais para que os trabalhadores as acessem pela internet a distância, não é mesmo? Então, as empresas que ainda não tinham “acordado” para a transformação digital e para o home office — o que, por sinal, é tendência cada vez mais forte no mercado de trabalho, mesmo antes do coronavírus —, estão se vendo em uma situação emergencial na qual precisam sair da zona de conforto e enxergar a tecnologia como uma verdadeira aliada, e não como um empecilho com o qual estão tendo que lidar “pra ontem”.
Inspire-se no sucesso alheio
De acordo com uma pesquisa realizada na semana passada pela consultoria Betania Tanure Associados, envolvendo 359 empresas brasileiras, mais de 60% delas entendem que adaptar as atividades presenciais para o ambiente virtual é o maior desafio quando o assunto é home office, enquanto 45% apontaram que o gerenciamento de pessoas a distância acaba sendo o obstáculo mais difícil de contornar.
A mesma pesquisa também revela que quase metade dessas empresas já adotou o home office imediatamente desde que os números da COVID-19 começaram a crescer em nosso país, com cerca de 60% de seus quadros de funcionários sendo liberados para trabalhar remotamente. Ainda assim, 14% delas responderam que não têm previsão de adotar o home office neste momento. Agora olha só que dado legal: as demais 43% já possuíam a política do trabalho remoto há mais de um ano, muito antes de sequer imaginarmos que viveríamos essa crise em 2020. Isso comprova a tendência do home office para o mercado de trabalho.
Então que tal se inspirar em quem já adota o trabalho remoto com sucesso? É o caso da PricewaterhouseCoopers Brasil. Marcos Carvalho, sócio de auditoria da PwC, contou recentemente ao Correio Braziliense que sua empresa tem políticas formais que incentivam a prática do trabalho remoto. No entanto, o executivo ressalta a importância de a empresa oferecer aos profissionais uma estrutura adequada para que eles realizem seus trabalhos remotamente sem perder qualidade e produtividade.
Ainda, que tal analisar como aqueles que estão “correndo contra o tempo” neste momento de crise estão implementando o home office de um jeito produtivo, a ponto de colher bons frutos lá na frente? Veja o exemplo da desenvolvedora paranaense de software Buysoft: a empresa decidiu liberar para o home office todos os seus funcionários para ajudar na contenção do novo coronavírus e, na tentativa de minimizar as dificuldades gerais de adaptação ao trabalho a distância, ela está usando seu próprio case de sucesso (bem como sua expertise) para oferecer apoio a qualquer outra companhia que precise de capacitação no home office — tudo gratuitamente, além de tudo.
Então, os experts da empresa vão auxiliar quem precisar de ajuda para capacitar seus funcionários a usarem ferramentas de comunicação corporativa como o Microsoft Teams, por exemplo, ou ainda softwares de produção audiovisual na nuvem, como é o caso dos programas que fazem parte do Adobe Creative Cloud. À Revista Amanhã, Clemilson Correia, CEO e fundador da Buysoft, disse que as pessoas são o verdadeiro foco das empresas, e a decisão de oferecer capacitação gratuita para o uso de ferramentas digitais adequadas ao home office é uma maneira de apoiá-las nesse momento de mudanças drásticas e repentinas.
A consultoria Betania Tanure, que citei mais acima, reforça também o seguinte: as empresas que acabaram adotando o home office às pressas precisam se atentar especialmente a três fatores, para que tudo dê tão certo a ponto de a companhia sair mais fortalecida quando essa crise toda acabar. O primeiro é estabelecer claramente o que é esperado do colaborador em termos de resultados, agora que ele está trabalhando em casa. O segundo ponto é orientar os funcionários sobre como eles devem conciliar vida pessoal e profissional no home office, já que as coisas podem acabar se misturando — o que vai gerar problemas a todos. E o terceiro fator é assegurar a boa relação entre gestor e equipe, com a liderança precisando estar em contato constante com as pessoas envolvidas no trabalho, talvez até mais do que se fazia no escritório, presencialmente.
Inovação em tempos de crise
Agora, se por um lado muitas empresas estão tendo a dor de cabeça de transformar seus processos para manter a produção em dia, e também lidando com gastos que não estavam previstos no orçamento do momento, por outro elas estão fomentando a inovação nos mais diversos setores do mercado por conta disso. É que, ao encarar “olho no olho” a urgência de se modernizar, essas empresas acabam antecipando tendências das quais elas acabariam não fugindo de qualquer forma — só talvez esperassem ter que se preocupar com isso mais lá para frente.
O famigerado “fim dos escritórios” é algo que vem sendo debatido há alguns anos, mesmo que diversos países, como o próprio Brasil, tenham certa resistência em aceitar a ideia de que, em casa, os funcionários trabalham tanto quanto (ou até mais e melhor!) — isto é, desde que sejam inseridos no contexto da transformação digital, no sentido de não apenas terem acesso às ferramentas necessárias (e serem treinados para usá-las), como também de serem motivados e capacitados para continuarem crescendo profissionalmente mesmo fisicamente longe de colegas de trabalho, superiores, clientes, fornecedores, etc. A ideia é que a tecnologia consiga aproximar essas pessoas, em vez de afastar todo mundo.
Então, fica nítido que, nessa transformação toda, é extremamente importante pensar na tecnologia e nas pessoas envolvidas com o mesmo peso, o mesmo carinho, e ter a mesma dedicação na hora de lidar com essas duas frentes.
A pandemia é temporária, mas a transformação não!
Momentos de crise, como é o caso dos dias atuais em tempos de COVID-19, muitas vezes acabam se mostrando promissores para quem mantém um mindset positivo, para cima e para frente, então a dica que eu posso dar aqui é: abra os olhos para a digitalização dos processos de trabalho. Enxergue o isolamento obrigatório como uma oportunidade de ouro para levar seu negócio a outro patamar, tirando proveito do que a experiência do home office vai proporcionar, com tudo o que esse formato de trabalho acarreta — de bom e de ruim também; afinal, de toda situação não tão legal assim que acabamos encarando na vida, podemos tirar lições valiosas de aprendizado e aprimoramento.
E, para encerrar, tenho um recado final para passar: não pense que essa transformação digital toda é algo a se atentar só nesses próximos meses de isolamento, achando que tudo vai voltar ao “normal” quando a pandemia passar! Quando a crise for embora e sair de casa enfim voltar a ser algo seguro, muita gente vai se surpreender com o quanto as relações de trabalho estarão mais dinâmicas e, como consequência disso, como os processos e o trabalho como um todo sairão ganhando ao se abraçar a transformação digital de uma vez por todas!
Não vamos “voltar ao normal” quando essa crise passar. Estamos participando da criação de um novo “normal”, isso sim!