Apesar dos 12 anos que nos separam, a imagem da destruição causada pelo furacão Katrina nos Estados americanos do Mississippi, Luisiana, Alabama, Nova York e Flórida ainda está fresca na memória de quem viveu ou acompanhou o drama de 2005. Vira e mexe, os amontoados de madeira, ferro retorcido, carros revirados e árvores arrancadas boiando em rios formados pela tempestade visitam nossas TVs e timelines.

O Katrina matou 1.836 pessoas e causou prejuízos avaliados em R$ 246 bilhões.

E agora há o Harvey e o Irma – fenômenos climáticos bem menos letais, mas igualmente devastadores, que começaram submergindo parte do Texas (ele) e arrasando as ilhas do Caribe, antes de chegar à Flórida (ela).

Se a brutalidade de Harvey e Irma vão ofuscar o brilho mortal do Katrina, só o tempo dirá. Os furacões de 2017, contudo, inauguram um marco bem mais expressivo, uma tendência que deve ser seguida daqui em diante: a conectividade da catástrofe.

Nunca antes na história desse planeta, vítimas de um mesmo flagelo tiveram acesso a tantas informações, previsões, alertas e serviços.

Primeiro, porque, em 2005, aplicativos simplesmente não existiam. Muito menos devices móveis e a quantidade de pontos de Wi-Fi.

Hoje, não apenas as vítimas dos ventos conseguiram abrigar-se a tempo, como puderam provisionar alimentos, gás, gasolina e monitorar – inclusive no escuro – mitigar o avanço das brisas e das chuvas e socorrer vizinhos, mesmo não sendo socorristas.

Mantiveram contato e tranquilizaram parentes, amigos e curiosos espalhados mundo afora, além de registrarem tudo – em certos casos, em tempo real.

Solidariedade digital

Os fenômenos Harvey e Irma são, igualmente, fenômenos de solidariedade digital.

Por meio de hashtags como #SOSHouston e #SOSHarvey, moradores do Texas se faziam achar por socorristas em meio às águas e eram salvos. Sabendo disso, desde a semana passada, diversas telecoms abriram seus sinais, oferecendo de graça WI-FI e 3G/4G a moradores das áreas afetadas, para que acessassem sites e aplicativos e, principalmente, recebessem os alertas da polícia, bombeiros e Defesa Civil.

A Comcast Internet, por exemplo, liberou 137.000 pontos de acesso à Internet Xfinity na Flórida. O sinal nos parques, prédios comerciais e empresas está aberto a qualquer um que precise, incluindo não-clientes.

“Sabemos que é extremamente importante que todos tenham um meio de comunicação a sua disposição antes, durante e depois de uma tempestade com o impacto potencial do furacão Irma”, disse Amy Smith, vice-presidente sênior da região da Flórida da Comcast, em comunicado.

A AT&T foi outra que encontrou uma maneira de manter a sua base conectada, em meio à tempestade: vem fornecendo gratuitamente – e o fará por muitos dias – dados, chamadas e textos ilimitados a seus clientes.

Os serviços incluem ligações e SMS para os Estados Unidos e Porto Rico, e ligações e SMS para as Ilhas Virgens Britânicas, República Dominicana, Haiti e Turcos e Caicos.

A empresa ainda criou o Blog Hurricane Irma, com atualizações sobre fechamentos das lojas, dicas de segurança e notícias relacionadas ao tema. A AT&T encoraja seus clientes a fotografar e filmar os estragos causados pelo furacão: “Esse material pode servir de prova mediante uma reivindicação a sua companhia de seguros”.

Zello

Pouco antes do Irma, o furacão Harvey devastou o sudeste do Texas. Lá, o anjo da guarda digital dos socorristas atendeu pelo nome de Zello. Gratuito, o aplicativo é uma espécie de “walkie-talkie” projetado para operar em locais com sinal fraco de Internet.

Poucos dias após a chegada de Harvey, o aplicativo registrou um aumento de 20 vezes em seu uso em Houston, de acordo com Bill Moore, diretor-executivo da startup.

Foi assim também à medida em que o Irma atravessava o Caribe em direção à Flórida: no auge das chuvas, o Zello tornou-se o APP mais baixado no iTunes e no Google Play, com 120 downloads por segundo.

Lista Tech

Prevendo o tédio que acompanharia a tempestade, o jornal Miami Herald criou uma lista de aplicativos para nutrir aqueles que, além de querer se informar, pretendiam se distrair. A lista contempla desde o APP da Cruz Vermelha, com alertas e informações sobre o avanço dos ventos, lanterna, estroboscópio e alarme, até aquele que ensina primeiros-socorros para situações que exijam choque anafilático e ataques cardíacos.

O da NOAA Radar US, agência governamental que monitora os furacões, traz imagens animadas de radares meteorológicos e com padrões de tempestades.

A lista do Miami Herald traz ainda o Weather Underground, com 200.000 estações meteorológicas, o nosso conhecido Waze, o Tracker.gasbuddy.com (para encontrar gás), o Zello (mencionado acima) e o Snapchat’s Map, que permite aos usuários compartilharem sua localização publicamente ou com amigos em um mapa interativo.

Ah, tem ainda o Headspace, para quem curte uma yoga e meditação e não pode ir a sua academia porque esta alagou.

Twitter e Facebook

A conectividade na catástrofe se fez presente até para quem não conseguiu se conectar. Facebook e Twitter, sabedores do seu poder de alcance entre os americanos e no resto do mundo, em manobra ousada permitiram que usuários abordassem parentes e amigos mesmo sem sinal de internet – via SMS.

Ambas as redes, assim como o Instagram e até o LinkedIn, também foram inundadas por hashtags como #irma #hurricaneirma #hurricaneharvey, digitadas por pessoas de dezenas de países interessadas em acompanhar os eventos climáticos e suas consequências.

Nem que fosse somente para enviar boas vibrações.

Marc Tawil

#1 LinkedIn Top Voices / Head na Tawil Comunicação Jornalista, radialista e escritor. É head da Tawil Comunicação, agência que fundou em 2010, em São Paulo. É comentarista da Rádio Globo (94,1 FM), SAP Marketing Influencer e diretor de Comunicação do Instituto Capitalismo Consciente Brasil. Atua como coordenador na Câmara de Comércio França-Brasil e participa ativamente de instituições, como conselheiro e embaixador, ligadas às causas do Refúgio, Educação, Igualdade Racial e Comunicação.

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