1776, Londres, Inglaterra. Este ano e local pode não dizer muito para você, mas é de extrema importância para a sociedade moderna.
Foi neste exato ano e neste exato país que Adam Smith, um relativamente conhecido filósofo escocês, escreveu o que hoje conhecemos como um dos alicerces da economia moderna: o livro “A Riqueza das Nações”.
Por qual motivo este livro é tão importante?
Ele descreveu uma das bases do progresso econômico para a nossa sociedade: a divisão de trabalhos.
Muito do que temos hoje só foi possível graças a um enorme salto na produtividade das empresas, causado justamente pela divisão de trabalhos, fragmentando a produção dos materiais em pequenas tarefas realizadas por trabalhadores mais especializados e velozes.
Hoje, graças a transformação digital e a revolução da comunicação, essa subdivisão avançou a um estágio em que todo profissional precisa se especializar para se manter relevante no mercado de trabalho.
Nós oficialmente entramos na era da hiperespecialização. Apesar disso, essa era ainda é pouco compreendida por muitos gestores e colaboradores.
Para entender melhor esse processo, vamos fazer uma rápida aulinha de história e voltar para o século XVIII:
O passado
As pessoas que viveram nas primeiras décadas da revolução industrial viram como alguns cargos únicos e até então considerados insubstituíveis, como o de um simples fabricante de pinos, de repente se transformaram em uma série de pequenas tarefas repetitivas divididas entre diversos trabalhadores.
De fato, o próprio Adam Smith, (que não era nem perto de um especialista em pinos), foi capaz de transformar o simples fabricar desse produto em 18 passos diferentes dentro de uma fábrica!
O mesmo está acontecendo hoje, em uma escala muito, mas muito maior.
Vendedores, secretárias e engenheiros são alguns exemplos de postos de trabalho que se transformaram em canais de pessoas ao redor de todo o mundo, desenvolvendo tarefas altamente especializadas.
Aliás, não só pessoas, robôs também entraram no jogo. Sim! A automatização dos dias de hoje, somada a essa hiperespecialização, fez com que algumas tarefas realizadas por humanos se tornassem atuações muito eficientes de robôs e softwares!
Robôs?
Quando foi a última vez que você precisou fazer uma consulta em um advogado? O levantamento de informações e precedentes costuma levar um bom tempo em processos e análises por parte de muitas empresas.
Há quem ainda acredite essa etapa a advogados juniores ou estagiários, que precisam de ainda mais tempo para efetuar esse tipo de pesquisa.
Agora, imagine que esse processo todo possa ser automatizado. Uma espécie de “Google” criado especialmente para advogados.
Com o uso de algumas palavras-chave, esse mesmo estagiário consegue encontrar precedentes de casos, leis que podem ajudar – ou atrapalhar – o processo.
Tudo isso em alguns minutos!
Esse “google” poderia agilizar todo o processo e dar mais tempo aos advogados para buscarem insights vantajosos para seus clientes.
Quem fez isso tudo? Robôs!
E esse é apenas UM exemplo. Já me deparei com softwares poderosíssimos de correção automática (que não só corrigem erros gramaticais, mas estruturas complexas de frases), ou até mesmo as já conhecidíssimas ferramentas de automação de marketing.
Mudanças modernas
Até mesmo postos de trabalhos relativamente recentes sofrerão com essa mudança, o que pode tornar certas profissões defasadas muito rapidamente.
Pense em um Software developer, por exemplo. A função do cargo pode ser facilmente “quebrada” em tarefas menores, realizadas por profissionais especializados.
Em vez de um Software developer, podemos optar por termos um profissional especializado responsável pelo design, outro pelo código, outro para realizar testes…
E esse cenário é apenas a pontinha do iceberg da hiperespecialização. Já é possível encontrar Startups de tecnologia onde o desenvolvimento de um único software envolve dezenas de pessoas!
Em vez de concentrar colaboradores específicos por cada conta, essas empresas “quebram” os projetos de seus clientes em pequenas tarefas e distribuem a funcionários altamente especializados na realização dessas tarefas.
E esse processo ainda pode ir além. Com o advento do outsourcing e offshoring, esses funcionários sequer precisam trabalhar na empresa!
O resultado desse processo? O conceito do que é ser um software developer mudou e se quebrou.
Estes profissionais estão mudando seu foco e descobrindo especialidades onde melhor se adaptam e como podem aprimorar estes aspectos.
Em vez de criar um software inteiro, vemos Devs que codificam pequenos módulos gráficos, ou são capazes de unir componentes criados por outros ou até mesmo na busca e correção de bugs de softwares montados.
O que a empresa ganha com isso?
Um aumento monstruoso na qualidade do que se é produzido e uma diminuição em tempo de produção e retrabalhos por pequenos erros que podem passar despercebidos.
E não para por aí. O ganho da hiperespecialização também pode ser sentido no bolso.
A velocidade no trabalho possibilita às empresas entregarem um material de qualidade superior às entregas de modelos tradicionais com uma redução de até 25% nos custos, segundo a Harvard Business Review.
Para entender de vez
Para entender melhor a magnitude do ganho que a hiperespecialização traz, pense no seu próprio dia a dia.
Quantas horas você gasta executando tarefas que não fazem parte do seu expertise e que talvez você sequer entenda perfeitamente ou seja a pessoa ideal para executar tais atividades?
Dá pra otimizar isso não é?
Project managers, por exemplo, passam horas e horas de trabalho desenvolvendo slides e apresentações, mesmo que apenas alguns poucos possuam a sensibilidade e o conhecimento em softwares para realizar essa atividade de uma forma produtiva.
“Mas pera aí!” você pode estar pensando, “eu permito que meus colaboradores deleguem tais ações, pois sei que isso torna o trabalho mais rápido e barato”
E isso realmente é um avanço. Mas, graças a transformação digital, ainda podemos ir além. Muito além. Além do outro lado do planeta, por exemplo.
Imagine que exista um serviço que ofereça a você acesso a uma rede de especialistas em PowerPoint. E que esses profissionais são experts nos mais diferentes tipos de apresentações – de apresentações interna de resultado vendas à projetos para indústrias de carros esportivos de luxo.
Some isso a um designer gráfico talentoso e temos a receita certa para uma apresentação magistral.
Pode parecer um exemplo singelo, mas marque minhas palavras: esse tipo de cenário se tornará realidade presente em diversos setores muito, muito em breve. Por quê?
Vale lembrar que hiper especialização não necessariamente é o mesmo que outsourcing ou offshoring, embora ambas as tecnologias sejam responsáveis por facilitar o processo de adesão nas empresas.
Hiperespecialização é sobre distribuir o trabalho que antes era realizado por uma pessoa para diversos outros trabalhadores, não importa se isso é feito através de terceirizações ou com a redistribuição de tarefas, cargos e competências internas.
E este aspecto pode ser um dos maiores responsáveis pela redução de custos nas empresas, pois a hiperespecialização permite que gestores utilizem melhor o tempo de seus colaboradores.
Ela implica em retirar do funcionário o peso de atividades aquém ao seu conhecimento, o que naturalmente resulta em mais tempo para que ele possa exercer tarefas de alto valor ou que apenas ele é capaz de fazer.
Por exemplo, em qualquer processo de venda B2B, é importantíssimo que se obtenha informações concretas e corretas de contato sobre os prospects.
Mas, por mais que essa etapa seja importante, é comum que o vendedor não passe muito tempo investindo na busca dessas informações, afinal, há um grande número de outras tarefas para serem realizadas.
Nessa situação, imagine empregar micro especialistas capazes de encontrar e verificar endereços na web, telefones, e-mails e redes sociais de decisores e influenciadores de compra das empresas que você está prospectando.
Some esses dados à técnicas de venda baseadas na análise de Big Data, um discurso matador e pronto: temos uma receita simples e certeira para um bom desempenho em vendas.
A hiperespecialização reduz custos ao abrir espaço para profissionais experts no que fazem, em vez de obrigar colaboradores a terem que reinventar a roda por vezes e vezes.
Esse processo muda profundamente o caráter na relação entre colaborador e negócio. Ele afetará não só as empresas, mas governos, ongs e instituições ao redor do mundo.
Estamos à beira de uma mudança na própria definição do que é trabalhar. Seja como gestor ou funcionário, você está preparado?
Então prepare-se com a gente descobrindo o que é Transformação Digital nos dias de hoje.